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O Passageiro Clandestino
Continua��o

Ao pai pouco importava o que ele estivesse a sentir por sua causa! Ele n�o parecia ralar-se� Apenas pensava no vinho e em espanc�-lo!� O que lhe ia pela cabe�a nessas alturas e lhe minava a intelig�ncia e a raz�o, Agostinho n�o tinha a m�nima ideia.
Depois que a m�e falecera, era Clarisse, conhecedora dos maus tratos que o pai lhe infligia, quem procurava reconfort�-lo e encoraj�-lo, tentando com uma esp�cie de instinto maternal, precoce para a sua idade, preencher a falta dela.
Dessa cadeia de pensamentos, Agostinho saltou para as realidades do momento. O que iria dizer o coman-dante do navio no dia seguinte? Quando Armando, o seu amigo de poucas horas, o apresentasse como um fugitivo ou um vadio...
Aqueles que cometiam tais actos eram muitas vezes tratados com severidade e metidos em pris�es. Que Deus tivesse pena dele, pensou o rapaz elevando ainda o pensamento para sua m�e como a pedir-lhe protec��o.
Naquela cama primitiva a ser embalada pelos trambolh�es das vagas, com o corpo a doer e a mente cheia de confus�o e medo, a pobre crian�a tombou num sono profundo, que ainda assim n�o o impedia de deixar escapar, uma vez por outra, um gemido de sofrimento.
Num breve relato � entidade m�xima do navio, Armando, o mo�o de conv�s, antes de levar o pequeno � ponte de comando onde o capit�o se encontrava , com o piloto, a aguard�-lo, contara com os devidos pormenores os �ltimos acontecimentos que o haviam levado a ter na sua cabine um companheiro inesperado - um clandestino! Ouvindo a hist�ria do mar�timo, o oficial, que podia ver as implica��es do facto com as autoridades governamentais da ilha e as normas que regiam a Marinha Mercante, ponderara por momentos que ac��o iria tomar.
No meio do Atl�ntico, a �nica alternativa vi�vel, seria mandar uma mensagem telegr�fica para as autoridades de S�o Miguel a aquietar a opini�o p�blica e tratar o petiz, n�o como um criminoso, antes com bondade, deixando-o em liberdade pelo navio.
� Vai e traz-me esse mo�o aqui, ordenou o comandante, despedindo o tripulante, que n�o demorou a cumpri-la.
� Ent�o, rapaz, querias ver terras sem pagar transporte, hein? - come�ou o coman-dante do navio, com uma pon-ta de sorriso, num rosto que, � for�a, procurava tornar s�rio, perante o espect�culo da pobre crian�a amedrontada que tinha na sua frente e o deixara compadecido.
� N�o, senhor., eu estava entre os fardos a dormir. Tinha-me escondido ali para descansar. Meu pai batera-me e tive de fugir de casa, disse o rapazinho mostrando o bra�o, como a provar a sua hist�ria.
� Agora, quer gostes ou n�o, tens de ficar aqui at� que um dia te possamos fazer regressar � tua terra, disse o capit�o olhando na direc��o de Armando para que este o tomasse � sua conta.
B � Vais ter com o Sr. M�rio enfermeiro, para que ele d� uma vista de olhos aos ferimentos e fa�a os trata-mentos que sejam precisos no bra�o do nosso passagei-ro� Agostinho!� � esse o teu nome, n�o �?
� Sim, senhor, respondeu o pequeno agradecido baixando a cabe�a, enquanto deixava escapar um obrigado que ficou a ressoar na ponte de comando do velho barco e no cora��o do comandante.
N�o era sempre que apareciam incidentes de car�cter fora do comum a que era preciso fazer face da melhor maneira poss�vel.
Dando uma ordem ao r�dio telegrafista, o homem fleum�tico que presidia aos destinos de bordo, deixou o local entregue ao imediato, que ficou a sorrir daquela inesperada aventura, incomum nas suas mem�rias sobre o mar, que ainda assim n�o eram poucas.

* * *
A not�cia do desaparecimento de Agostinho Vieira, um rapaz inteligente e estudioso, na opini�o da professora e de alguns dos colegas de escola, sem ter deixado uma pista que ajudasse a pol�cia nas suas buscas, n�o ocupara por isso muito lugar nos jornais.
Estes limitavam-se a pedir aos leitores que, se por acaso soubessem dalgum pormenor, informassem as autoridades.

(continua)



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Toronto,
10/Mar�o/2003
Edi��o 771

ANO XXIII

   
   

   F. Feliciano de Melo

 

 

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