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QUARESMA

Depois duma ter�a-feira de Carnaval, vem sempre uma quarta-feira de cinzas. � o in�cio do tempo quaresmal. S�o sete domingas, como antigamente se dizia. Era um tempo de jejum e de abstin�ncia, que naquelas �pocas era muito dif�cil de cumprir, uma vez que os "teres e os comeres", n�o abundavam.

Lembro-me que n�o se podia comer carne � sexta-feira, n�o sabia, nem ainda hoje sei, porqu� eram essas directrizes da Igreja Cat�lica, uma vez que naqueles tempos s� se comia carne pela P�scoa, pelo Esp�rito Santo, pelas festas votivas e pelo Natal. Para mais � sexta-feira.

Ainda se fosse num Domingo, v� l� que ainda tinha algum sentido, mas talvez porque ao Domingo era muito mais dif�cil prepararem-se outras iguarias que n�o tivessem carne ou seus derivados. N�o era sacrif�cio nenhum, a n�o ser em rela��o � carne de galinha, que as havia, porque toda a gente tinha o seu "curral de galinhas", para da� tirar o proveito para a sua dieta alimentar. Havia naquele tempo, sempre muito peixe a vender e muita gente ia para a costa, com isca de carne de toninha ou de baleia, engodar sargos ou outras esp�cies apreciadas para depois de as prenderem no anzol e as meterem no cesto de vimes, trazerem para casa e prepararem o "caldo de peixe" e assim saciar a fome das fam�lias que quase sempre eram muito numerosas. O a��car era usado s� para temperar uma ch�vena de ch� ou de caf� e lembro-me de comprar o sal ao quilo e as especiarias �s gramas.

Hoje h� muito que comer e as exig�ncias alimentares, logo que haja dinheiro, est�o mais viradas para os enlatados e enchidos, o que � muito prejudicial � nossa sa�de. J� h� muita gente arrependida de ter desmoronado os seus currais de galinhas, porque agora e com a descoberta de mais um produto cancer�geno na engorda das aves de avi�rio o consumo caiu cinquenta por cento. E agora h� tanta "patinha e coiceies", no ch�o e nas paredes, porque tamb�m j� n�o h� bra�os e m�os para os apanhar. Durante o tempo Quaresmal, havia as prociss�es que hoje j� na totalidade desapareceram. A prociss�o de Domingo de Ramos, a prociss�o da "Ver�nica", que percorria a Vila, onde existiam cinco "passos" hoje h� s� tr�s e a prociss�o da Ressurrei��o, no Domingo de P�scoa, tamb�m, por falta de homens e porque outras tradi��es trazidas do Continente est�o a tomar forma, como � o caso do "Compasso", tendem a desaparecer. Era a interrup��o, por parte da crian�ada, do jogo do pi�o, para "n�o se nicar a cara a Nosso Senhor, porque era pecado", assim os mais velhos nos ensinavam e s� se come�ava de novo a "jogar ao pi�o", no s�bado de Aleluia.

Tudo isso desapareceu. Hoje nenhum mi�do sabe enrolar uma fieira � volta do pi�o, porque os pi�es que por c� aparecem s�o para turista comprar e muito mal feitos. H� quarenta anos e mais dizia-se que "pi�o feito no torno valia um corno" e que "pi�o feito � faca valia uma pataca". Termos e ditados que ca�ram em desuso porque ningu�m mais implementou o jogo do pi�o. Era o tempo das corridas com arcos de borracha de pneus, com arcos de barricas e com arcos de vimes. Jogos que se idealizavam, colocando obst�culos num recinto previamente delimitado e a gincana processava-se com mais ou menos per�cia. No final a volta � vila era sempre a corrida final e a que melhor dava para determinar o vencedor. Outro brincadeira eram as batalhas com os "estalos", tipo de pistola, feita de pau de sabugueiro, donde era retirado do seu interior uma esp�cie de miolo e a casca de laranja funcionava como bala, que era empurrada com um pau dimensionado com a sec��o pr�pria, para circular dentro do orif�cio donde se tinha retirado o miolo.

Entre o buraco da entrada e o buraco da sa�da, formava-se uma c�mara de ar, que ao ser comprimida pelo bocado da casca de laranja, ia empurrar o outro bocado que estava no outro lado do "tubo", que era ent�o expulso com uma certa intensidade e atingia uma certa dist�ncia, sempre direccionada para um objectivo. Um era ver qual era o "estalo" que conseguia atingir o cimo do telhado dum predeterminado edif�cio e o outro era atingir o grupo que do outro lado do passeio, iria "acertar" em mais elementos da equipe advers�ria. Eram brincadeiras que nunca provocavam brigas nem ferimentos e o escurecer era sin�nimo de se procurar a casa paterna para a ceia e o descanso di�rio. Era no aspecto religioso a altura da "desobriga", para cumprir o que a Igreja determina: "confessar-se ao menos uma vez cada ano" e era nesta ocasi�o que compareciam na Igreja aqueles que durante o ano, nunca procuravam as suas portas.

O tempo entre o Domingo de Ramos e o Domingo de P�scoa, denominado de "Semana Maior", era demasiado ma�udo, para os fieis, porque as cerim�nias e as leituras da paix�o, ou cantada ou rezada em latim, era um aut�ntico tormento, porque nada se entendia e eram muito morosas e pouco percept�veis. Felizmente que o Vaticano Segundo alterou tudo isso e deste modo juntou mais os fieis, fazendo-os participar mais directamente no Mist�rio da Morte e Ressurrei��o de Jesus.

S�o sete semanas de reflex�o e de penit�ncia que devemos aproveitar para revermos a nossa vida e prepararmo-nos para a outra que surgir� quando menos a esperarmos. E na quarta-feira de cinzas o sacerdote lembrou-nos que: "Somos p� e que em p� nos havemos de tornar"! Haja coragem para interiorizarmos esta m�xima que consubstancia toda a nossa vida terrena.

At� para a semana, se Deus quiser.



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Toronto,
17/Mar�o/2003
Edi��o 772

ANO XXIII

    Por: Paulo Lu�s �vila

 

 

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