LEIA
 � ELEITO O NOVO
   CONSELHO DAS
   COMUNIDADES
 � PONTA DELGADA
   BOMBARDEADA
 � Coelho "ca�ado"
   em manifesta��o
 � EM OFF
 � CR�NICA PICOENSE
 � Edi��es Anteriores
 
A m�dia e a guerra

Devido � for�a da televis�o, que se tornou o meio quase exclusivo de apresenta��o da realidade para a maioria das pessoas, passa-se a tomar por real o que nela se v�. E isso n�o se aplica apenas a conte�dos, programas de not�cias e formas espec�ficas de entretenimento, mas � maneira de apresent�-los, que � n�o linear e que acentua os narcisismos, na medida em que n�o reproduz nem refor�a a identidade e elos est�veis.

A realidade vivificada (Luciano Zajdsznajder) pelo sistema de televis�o levanta quest�es �ticas de v�rias naturezas, como interfer�ncia nas maneiras de apreciar os acontecimentos da vida, o car�ter extremado de entretenimento e a constitui��o de uma realidade que sobrep�e e emula a realidade comum.

"Nos �ltimos anos, deixamos de oferecer aos leitores e telespectadores o que � realmente importante para a vida deles. Precisamos recuperar os princ�pios b�sicos de tudo, incluindo ai o bom jornalismo", diz um especialista no assunto. No que se refere � cobertura jornal�stica de guerras, atentados terroristas e outras anomalias desse g�nero, a coisa � feia. James Fallows, estudioso da imprensa disse, por ocasi�o da ofensiva de Bush, contra o povo sofrido do Afeganist�o (j� que o alvo principal, Osama bin Laden continua solto), que o terror isl�mico consegue usar a TV e os jornais para disseminar o medo nos Estados Unidos. Ele acredita que, "no conflito mais sofisticado da era moderna, os jornalistas n�o est�o fazendo direito seu trabalho". Em outras palavras v�rios setores de editorias de jornais, revistas e TVs t�m se perdido, ao longo do tempo, no patriotismo.

Terry Anderson, jornalista que foi mantido em cativeiro por terroristas durante quase sete anos, no L�bano, diz: "A pr�pria cobertura de um seq�estro pol�tico, um assassinato ou um atentado � bomba com muitas v�timas � a primeira vit�ria dos que fazem terrorismo e, por extens�o as guerras. A publicidade �, ao mesmo tempo, o objetivo principal e uma arma para aqueles que empregam o terrorismo contra pessoas inocentes com a finalidade de promover causas pol�ticas ou simplesmente gerar o caos".

O exemplo se repete agora na guerra contra o Iraque. O Saddam Hussein, n�o merece cr�dito, mas n�o � bobo, botou a boca no megafone afirmando a baz�fia seguinte: "Estamos vencendo as mentiras desavergonhadas das m�dias americana e brit�nica que proclamam conquistas que jamais obter�o". O certo � que de ambos os lados h� uma verdadeira "guerra", em mostrar ao mundo de forma escandalosa e at� bomb�stica os flagelos dessa guerra insana. Por conta disso a CNN, por exemplo, j� foi convidada a se retirar da �rea de conflito sob acusa��o de estar endeusando os fatos, plantando mentiras que em �ltima an�lise colocam os EUA; leia-se: Bush, como detentor de todas as virtudes nessa pugna maldita. No Brasil a cobertura da guerra, que ora acontece no Iraque, pelos canais de televis�o Globo, SBT, BAND, Rede TV, Record e outros menos famosos �, com rar�ssima exce��o, duma estupidez irritante. Por exemplo, domingo 23.03.03 na transmiss�o do jogo Vasco X Fluminense, o narrador de vez em quando, abria par�ntese para dizer. "Daqui a pouco, minuto a minuto da guerra do Iraque!" Primeiro a guerra n�o � do Iraque. A guerra � do presidente Bush no Iraque. Segundo, determinadas chamadas televisivas, como no caso da guerra no Iraque, devem trazer, sem hipocrisia, uma m�nima compenetra��o por parte de quem anuncia. Querer fazer dessa desgra�a, que s�o os ataques notadamente contra Bagd�, um neg�cio de grandes �ndices de audi�ncia, � no m�nimo imoral e engorda. O Datena, apresentador do Brasil Urgente da BAND, que a m�dia nacional, n�o sei por que, teima em chamar de "fen�meno" � o mais digno representante desse jornalismo l�nguido, que vai ao ar todos os dias, � tarde, explorando tudo o que n�o presta na vida cotidiana brasileira. "Olha l�, olha l�!", diz ele aos berros, apontando para o v�deo. Como se eu, telespectador, detentor tamb�m da mesma imagem, imbecilmente n�o estivesse vendo.

O que esta em foco aqui n�o � a not�cia oriunda de um jornalismo coerente com o fato ocorrido, mas a irresponsabilidade e o sensacionalismo em cima de um acontecimento dr�stico, como � a guerra no Iraque.

�s vezes o nosso sentimento em rela��o � m�dia assemelha-se ao de um homem que fumava muito. Quando lia artigos de jornais e revistas ou ligava seu aparelho de tev�, estava sempre encontrando informa��es sobre os perigos do fumo, relacionando-o com o c�ncer pulmonar. Como continuasse a encontrar muitos artigos sobre o assunto, foi ficando cada vez mais preocupado, pois os relatos eram muito inquietantes. Afinal, um dia, tomou uma decis�o, e disse para um amigo: - Sabe de uma coisa? J� li tanto sobre o fumo como causador do c�ncer de pulm�o, que agora decidi: n�o vou ler mais nada!

Parece que nos dias de hoje a melhor coisa a fazer � "n�o ligar a tev�", n�o ter conhecimento desses relatos inquietantes relativos �s tristes condi��es em que se encontra o nosso mundo, principalmente a partir dessa guerra no Iraque, e que est�o sempre diante de n�s quando abrimos um jornal, ligamos o r�dio, a televis�o ou acessamos um site.

Mas � l�gico que, ignorar a situa��o quando os cidad�os de bem do mundo inteiro anseiam e clamam por paz, seria uma atitude t�o descabida quanto � do fumante que parou de ler, ouvir e ver os notici�rios sobre o fumo.

Nesta guerra no Iraque, parece que s� o que existe de real, segundo Marcos Uchoa correspondente da Rede Globo no Kuwait, � o sofrimento do povo. Infelizmente!

* Paulo J. Rafael � jornalista, professor universit�rio e doutorando em Ci�ncias Pol�ticas e Administra��o P�blica pela AWU- American World University of Iow



Copyright � 2003, VOICE Luso Canadian Newspaper Ltd. First Luso Canadian Paper to Jump on the Net! For more information contact [email protected]
 
Toronto,
7/Abril/2003
Edi��o 775

ANO XXIII

   
   
    * Paulo J. Rafael
   Direto do Brasil
   

 

 

  Desenvolvimento - AW ART WORK