LEIA
 � COMEMORANDO
   O 25 DE ABRIL
 � LEMBRAN�AS DA
   ESTIMADA SERT�
 � " ENCONTRO
   INESPERADO
   " C O N T O
 � ELEI��O
   DA MISS 2003
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" ENCONTRO INESPERADO "
C O N T O

- Porque n�o tentamos ver se com a ajuda um do outro, podemos descerrar a pouco e pouco as cortinas do nosso passado, que em vista de nos conhecermos, deve ter sido comum?

- E qual � o seu plano? Quiz saber a D. Bandeira cheia de curiosidade.

- Simples, minha Sra., conforme j� vimos, n�o perdemos todas as nossas faculdades, reconhec�rmo-nos foi o princ�pio; vamos agarrar-nos ao pouco que cada um sabe e tentar complementar-nos. Usarei uma palavra ou um gesto seu para espevitar a minha mem�ria, e a Sra. far� o mesmo com respeito a mim. Essas coisas �s vezes p�em a m�quina em funcionamento, disse o homem que gostava de alegorias, apontando para a cabe�a.

- Podemos tentar, aprovou a D. Bandeira.*

Haviam escolhido um lugar solit�rio, onde n�o espe-ravam ser incomodados pelos outros h�spedes daquela col�nia de repouso afim de in�ciarem as suas experi�ncias.

Agora que tudo estava assente, o Joaquim come�ava a sentir-se receoso do que pudesse vir a descobrir do seu passado, que pusesse em risco as rela��es cordeais que tentava estabelecer com a sua companheira naquele lugar estranho.

N�o queria de modo algum voltar � vida solit�ria de antes. Tinha uma vaga sensa��o de que nem sempre haviam sido amistosas, as suas interfer�ncias com a senhora que tinha na sua frente e que dava pelo nome de Henriqueta!�.

Por sua parte a esquel�tica criatura, deslizava pela mesma corrente de ideias, sentindo iguais apreens�es, quanto � possibilidade de perder a companhia do Napole�o. Via-se que o par temia o isolamento do lugar, tentando salvaguardar a todo o custo a cordealidade do casual encontro!

Ap�s confessarem os m�tuos receios, ambos, em quem a curiosidade era mais forte do que o medo, estabeleceram um pacto. Fosse o que fosse que pudessem vir a descobrir, nada alteraria as suas rela��es presentes. Estavam ambos fartos de viver solit�rios, entre desconhecidos e n�o se sentiam dispostos a voltar � mesma situa��o.

Firmes nos seus prop�sitos, estenderam as m�os para selar o pacto que haviam concluido e quase em un�sono, soltaram um grito de espanto; n�o havia nada que apertar de parte a parte. A m�o da D. Henriqu�ta passara atrav�s da m�o do Napole�o e a deste, n�o encontrara tamb�m qualquer resist�ncia.

O v�u que por tanto tempo teimara em obscurecer-lhes a realidade da nova situa��o em que se encontravam, come�ava a partir-se! Eram dois corpos vaporosos, onde s� restavam apar�ncias.

* * *

Havia seis meses que a bonita senhora se encontrava viuva. Ainda n�o se refizera da perda do marido que estremecia.

Acima de tudo o que mais a fazia sofrer, era a lembran�a de que o seu pobre Joaquim morrera sosinho, longe de-la!� Sosinho, n�o era mais do que for�a de express�o, o avi�o onde se deslocava, ia cheio de passageiros, mas para ela, na sua dor, considerava-os uns estranhos.

Enxugando uma l�grima, a inconsol�vel viuva foi guar-dar o jornal, que come�ava a amarelecer do uso permanente ao contacto com as su-as m�os, onde resumidamente viera descrita a morte do Na-pole�o. Na not�cia, que pelos vistos, j� havia lido vezes sem conta, ao ponto de a poder dizer de cor: podia ver-se:

"Ocorr�ncia Pouco frequente"

Faleceu repentinamente de um ataque card�aco, quando se deslocava para o Cairo, num dos avi�es da Klanka Air Lines, em viagem de neg�cios, o Sr. Joaquim Napole�o, representante dos famosos vinhos de mesa Colarinho.

As hospedeiras e oficiais de voo, tentaram massagens e respira��o artificial, mas tudo foi in�til; o Sr. Napole�o que n�o pudera resistir ao ataque, acabara perdendo a sua ultima batalha.

Lamentando a tr�gica ocorr�ncia, resta-nos enviar as mais sentidas condol�ncias � sua inconsol�vel esposa.

Fora a primeira e a �ltima vez que o nome do marido viera nas not�cias. Para uma pessoa recatada e de modestas condi��es, como ela, ainda mesmo tratando-se da morte do seu Napole�o, sentia uma certa vaidade, sempre que mostrava o jornal a algu�m das suas rela��es.

Era um prazer masochista, pois a D. Laura derramava sempre algumas l�grimas nesses momentos, mas quem pode discutir as fraquezas humanas? Gostara do marido continuando ainda a am�-lo, mas acima de tudo, onde sentia mais a sua falta, era na cozinha.

Napole�o fora um bom gastr�nomo� Um bom garfo, como costuma dizer-se! N�o s� comia bem, quase sempre mais do que devia, como insistia ainda no p�o e nos molhos, o que por certo o havia ajudado a levar mais cedo para a cova.

(continua na pr�xima edi��o)


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Toronto,
28/Abril/2003
Edi��o 778

ANO XXIII

    F. Feliciano de Melo
   

 

 

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