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In�til sacrif�cio
� consolador acreditar que a inclina��o pela luta armada foi conseq��ncia do fechamento dos canais de express�o pol�tica, ap�s a imposi��o do AI-5, em 1968. Essa �, por�m, apenas uma parte da verdade.

Uma das virtudes, entre muitas, dos dois volumes de Elio Gaspari sobre o regime militar ("A Ditadura Envergonhada" e "A Ditadura Escancarada") que acabo de ler, � a de provocar no leitor uma sensa��o de profunda tristeza, isto mesmo, de profunda tristeza. Esse sentimento nasce da constata��o de que aqueles anos marcaram o sacrif�cio de centenas de jovens, embalados no sonho de derrubar pelas armas a ditadura. Grandiosa tarefa que n�o buscava o reencontro com a democracia, adjetivada pejorativamente de formal, mas o triunfo de um governo popular revolucion�rio, a caminho da reden��o socialista.

� consolador acreditar que a inclina��o pela luta armada foi conseq��ncia do fechamento dos canais de express�o pol�tica, ap�s a imposi��o do AI-5, em 1968. Essa �, por�m, apenas uma parte da verdade. O livro de Gaspari relembra e acentua que a ilus�o revolucion�ria nasceu muito cedo, desde as primeiras aventuras do p�s-64, at� a forma��o das chamadas organiza��es de vanguarda, que assumiram a teoria do foco, as alternativas da guerrilha urbana ou rural, as a��es justiceiras exemplares.

Menosprezar o sacrif�cio dessa gente, que se entregou a uma luta sem esperan�a e sem sa�da, e foi estra�alhada pela ditadura, seria simplesmente ign�bil. Eles n�o foram presas de um del�rio coletivo. Suas a��es resultaram de certas concep��es correntes naquela �poca, o que n�o quer dizer que possamos nos dispensar de lembr�-las como receita segura para o desastre.

Nos anos 60 do s�culo passado, a ilus�o revolucion�ria, na Am�rica Latina, chegou ao paroxismo. Se a China parecia um exemplo n�tido de supera��o do p�ntano em que se metera a revolu��o russa (era muito mais do que um p�ntano), em nosso continente brilhava a estrela da revolu��o cubana. Seu triunfo marcava um corte com velhos m�todos, al�m de aplicar um golpe quase impens�vel no imperialismo.

Os velhos partidos de esquerda, com seus lentos movimentos, suas infinitas discuss�es, sua esperan�a posta em uma classe universal que n�o pretendia ser universal, pareciam definitivamente liquidados. Que atra��o para os jovens militantes a fa�anha realizada por guerrilheiros quase t�o jovens como eles, mudando aparentemente o mundo com imensa ousadia!

Produto de uma conjuntura, o feito castrista gerou a falsa certeza, alimentada por Fidel Castro, de que era poss�vel transplantar a experi�ncia cubana a outros pa�ses da Am�rica Latina. Mais ainda, que esse transplante era desej�vel. S� que, em vez de criar uma nova Cuba, ou um novo Vietn� pela via da guerra prolongada, as a��es guerrilheiras foram um excelente pretexto para que a ditadura desse um salto na liquida��o das liberdades e na introdu��o da tortura como m�todo de governo.

Desculpando-me pela eloq��ncia, penso que vale a pena extrair desses tempos sombrios uma segura li��o. O caminho da constru��o de um Brasil mais justo n�o passa pelos atos her�icos, pelo voluntarismo sem limites, pela sacraliza��o de ditadores. Antes, ele vai resultando de um esfor�o cont�nuo, vis�vel ou an�nimo, conforme o caso, que abrange os bons governos e a sociedade.

* Paulo J. Rafael � jornalista, professor universit�rio e doutorando em Ci�ncias Pol�ticas e Administra��o P�blica pela AWU- American World University of Iow



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Toronto,
28/Abril/2003
Edi��o 778

ANO XXIII

   
   
    * Paulo J. Rafael
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