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OS NOVOS LEPROSOS!
 
Algures por cima do Atl�ntico 01 de Maio de 2003

De volta ao Canad�, escrevo a minha coluna semanal, enquanto o avi�o se aproxima de Toronto, que felizmente j� n�o est� na lista dos locais que a Organiza��o Mundial de Sa�de, aconselha a n�o ser visitados, devido ao Sindroma Respirat�rio Agudo Grave, uma decis�o um pouco precipitada, mas que ao que parece, tamb�m foi causado por certas atitudes pouco acertadas da Ministra da Sa�de do Canad� An McLelan.

Normalmente estas colunas, s�o dedicadas a assuntos sociais ou pol�ticos mas eu tamb�m tinha prometido que enquanto durasse o surto do Sindroma Respirat�rio Agudo Grave (S.A.R.S.), iria escrever sobre este assunto regularmente.

Afinal hoje, abordarei os dois assuntos ao mesmo tempo.

Na realidade, a exist�ncia desta nova doen�a em Toronto, serviu por um lado para demonstrar o gosto que alguns media, em Portugal, t�m pelo sensacionalismo e por outro, uma certa animosidade e at� inveja que existe na terra em que nascemos, contra os que imigraram e vivem no estrangeiro. Um doen�a terr�vel, que estaria a matar muita gente e ainda por cima trazida pelos emigrantes foi sem d�vida uma boa oportunidade para certos media em Portugal produzirem not�cias sensacionais e para como diz o nosso povo duma cajadada matarem dois coelhos - dizerem mal dos imigrantes e venderam papel ou tempo de antena.

Nos tempos antigos, as pessoas que sofriam de lepra eram expulsas da comunidade em que viviam e enviadas para locais isolados, muitas vezes ilhas, e exclu�do de qualquer contacto humano. Tal era o medo que a popula��o tinha de ser infectada, que em certas �pocas, os leprosos eram obrigados a usar um chocalho, para que quando se aproximassem duma povoa��o, os habitantes tivessem tempo de fugir.

Tragicamente, muitos dos "leprosos" n�o tinham realmente lepra mas sim outras doen�as desconhecidas nessa �poca, e mesmo que a tivessem, trata-se duma doen�a pouco contagiosa.

Este medo de infec��es e o terror que elas instilam nas popula��es, s�o uma caracter�stica humana. Tamb�m � um comportamento comum, da nossa esp�cie, atribuir aos "estrangeiros", ou pessoas de outras terras, cores, religi�es, ra�as, ou de quem n�o gostamos, a culpa pela dissemina��o de doen�as. N�o � por acaso, que os ingleses chamavam � s�filis "the french disease"( a doen�a francesa) e os franceses "la maladie anglaise" (a doen�a inglesa).

Este sentimento de terror �s infec��es, especialmente a tend�ncia de culpar os outros, que s�o de fora, por trazerem doen�as terr�veis, explicar� as atitudes que presenciei, na breve visita � nossa p�tria materna.

Um breve parenteses, para os que fiquem espantados com a inclus�o de n�s "portugueses de c�"na categoria dos estranhos ou at� de estrangeiros, pelos "portugueses de l�". � minha opini�o, que embora os nossos familiares e amigos nos recebem, muito bem, quando vamos a Portugal uma boa parte da popula��o, portuguesa n�o simpatiza muito com os imigrantes. A discuss�o das raz�es para esta atitude, n�o est�o no �mbito deste artigo, embora se tivermos de atribuir culpas elas n�o dever�o pertencer apenas aos portugueses de l� - por outras palavras, o comportamento de alguns imigrantes em Portugal, tem contribu�do de alguma maneira, para um certo n�vel de hostilidade a que estamos sujeitos quando visitamos a terra em que nascemos. Na realidade muitos t�m inveja de n�s, pensam que vivemos rodeados de riquezas e que os d�lares, rands, libras ou euros, caiem do c�u, ou chegam �s nossas m�os com pouco trabalho. Tamb�m muitos julgam que somos vaidosos, ostentosos e nos julgamos superiores aos portugueses que vivem em Portugal. Infelizmente, uma pequena minoria dos imigrantes, t�m esse comportamento, criando uma m� reputa��o para todos n�s. O SARS, foi para muita gente em Portugal uma oportunidade de tomar uma posi��o de superioridade, em rela��o aos imigrantes.

Tudo isto vem a prop�sito da minha experi�ncia em Portugal com a reac��o que alguns dos nossos compatriotas que l� vivem, tiveram em rela��o aos portugueses do Canad� e ao medo irracional que eles trouxessem consigo a tal famosa doen�a, o Sindroma Respirat�rio Agudo Grave, que a media continua a baptizar de pneumonia at�pica, nome dado a outra doen�a, muito menos perigosa.

Logo � chegada, verifiquei que havia novidade. Um avi�o vindo de Toronto, -o meu vinha de Madrid- teve os seus passageiros "atacados"pela televis�o que queria saber o que se passava na maior cidade do Canad�. Eu, que sa� um pouco depois, tamb�m fui entrevistado, talvez porque tinha cara de imigrante ou porque por raz�es que desconhe�o descobriram que sou m�dico. Surpreendentemente -pelos vistos muita gente v� o notici�rio da TVi-, todas as pessoas de fam�lia e amigos com quem tenho falado, me disseram que me tinham visto. Como � natural, apenas uma parte do que eu disse foi mostrado na televis�o, mas tive pena, que o que se segue tenha sido omitido.

Quando, a simp�tica locutora me perguntou se havia grande preocupa��o em Toronto quase sugerindo que havia p�nico, eu disse-lhe que sim, tendo afirmado que havia grande tristeza e preocupa��o na cidade. Depois de ter criado este "suspense"disse � jovem entrevistadora, que tudo era devido ao facto, que mais uma vez a equipa local de h�quei sobre o gelo, o Maple Leafs, tinha sido eliminado da ta�a dos campe�es da Am�rica do Norte.

Claro que eu estava, e a ser ir�nico, e at� certo ponto a exagerar -muitas pessoas est�o realmente preocupadas com o Sindroma- mas era minha inten��o contrariar o ambiente de sensacionalismo, que existia em rela��o ao assunto.Tamb�m procurei dar uma perspectiva ao problema, dizendo que morrem mais pessoas em Portugal, durante certos fins de semana, com ponte, do que durante todo o surto de SARS no Canad�. Tamb�m chamei a aten��o para o facto que com duzentos ou trezentos casos da doen�a numa popula��o de 30 milh�es de habitantes, t�m-se mais possibilidades de ser atropelado por um carro do que apanhar SARS.

Felizmente, a maioria das pessoas entrevistadas, como verifiquei mais tarde, responderam duma forma l�gica, coerente sem fomentar de alguma maneira a sede de not�cias alarmantes e sensacionais, que existe hoje em Portugal.

Mais tarde fui entrevistado pela RTP, e mais uma vez procurei transmitir aos nossos compatriotas, que n�o estamos perante uma cat�strofe, ou que existe p�nico em Toronto, uma cidade aonde afinal a vida corre normalmente.

No entanto, falando com muita gente em Portugal, fiquei com a impress�o que eles julgavam que a vida da cidade estava paralizada, os hospitais encerrados, e que a popula��o nem sai � rua com medo de ser infectada.

Tamb�m verifiquei, que muitas pessoas, receavam que os imigrantes portugueses, trouxessem com eles o v�rus do Sindroma e infectassem a popula��o. Alguns dos causadores da paran�ia, acerca dos perigos que os imigrantes podem trazer para Portugal, s�o uma parte dos media, que com afirma��es incorrectas, tendenciosas e sensacionalistas est�o a criar um ambiente de medo e at� hostilidade em rela��o aos portugueses do Canad�, de visita � sua p�tria de origem. Um caso t�pico, � o revista semanal Focus que tem o desplante de imprimir na sua capa, as seguintes palavras"milhares de emigrantes no Canad� v�m aos A�ores para as Festas do Senhor Santo Cristo. Na bagagem trazem o v�rus da pneumonia" segue-se a esta declara��o incendi�ria, o t�tulo "Portugal alerta ao m�ximo".

Revelando uma tend�ncia para o sensacionalismo e falta de �tica profissional, o jornalista da Focus, baseia as suas afirma��es alarmistas, nas declara��es duma senhora luso-canadiana que declarou "que hoje n�o se pode tossir ou espirrar em p�blico". Uma vez que merc� dos esclarecimentos das autoridades de sa�de p�blica, toda a gente sabe que o SARS n�o d� espirros, � possivel que a senhora em quest�o, seja uma das tais pessoas, que ao espirrar fazem o barulho igual ao duma bomba e assustam toda a gente. Ali�s, � at� poss�vel, que o jornalista na sua �nsia de fazer sensacionalismo, tivesse citado a pobre senhora fora do contexto das suas declara��es, como muitas vezes sucede com jornalistas pouco escrupolosos e com o desejo de exagerar ou deturpar.

Devo acrescentar que as reportagens da T.V.i. e da R.T.P., que vi estavam muito bem feitas e de forma alguma sacrificavam a verdade ao gosto pelo sensacionalismo.

No entanto idiotices do g�nero das do Focus, ouvem-se e ve�m-se em muitos media, e at� alguns colegas meus que se intitulam peritos nesta doen�a, fazendo declara��es bomb�sticas e assustadoras, sobre uma condi��o cl�nica da qual n�o t�m a experi�ncia ou conhecimento.

Felizmente h� ainda quem mantenha o bom senso, e h� muitas informa��es que s�o informativas , equilibradas e n�o procurar alarmar o p�blico.

Tamb�m jornais como o Di�rio de Not�cias que j� leio desde os seis anos de idade, souberam manter os seus leitores informados, sem procurarem usar sensacionalismos nefastos e assustadores.

Pelos vistos nada � melhor para vender papel ou tempo de antena, do que declarar que vem a� uma doen�a terr�vel que nos vai matar a todos, e ainda por cima trazida pelos imigrantes, por quem muitos dos nossos compatriotas, n�o parecem ter uma grande estima.

Calcule-se que certos idiotas, incluindo colegas meus, at� sugeriram que se n�o deixassem aterrar nos A�ores, avi�es trazendo pessoas para assistir �s festividades do Senhor Santo Cristo.

A prop�sito, sugeri a algumas pessoas, que se mostraram entusiasmadas com esta ideia est�pida que o Canad� tamb�m poderia recusar a vinda de avi�es de Portugal, uma vez que uma doen�a muito mais perigosa que o Sindroma Respirat�rio Agudo, a tuberculose, tinha sido quase erradicada deste pa�s, sendo a maioria dos novos casos trazidos de outros pa�ses, sendo um deles a terra aonde nascemos.

� triste, que um assunto s�rio, como o do Sindroma Respirat�rio Agudo, seja aproveitado por certo media irrespons�vel, para fomentar a animosidade contra os portugueses que vivem no estrangeiro e querem visitar a sua p�tria m�e.

� ainda mais triste, que uma certa minoria dos portugueses que vivem em Portugal tamb�m usem esta doen�a nova para manifestar a sua hostilidade com os seus compatriotas que vivem no estrangeiro.

Afinal, somos todos portugueses.

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A prop�sito do Sindroma Respirat�rio Agudo e do uso de m�scaras, um leitor telefonou-me a perguntar porque � que as m�scaras cir�rgicas, como a que a Ana Alice usava na fotografia do "Voice" de 14 de Abril n�o protegiam contra esta doen�a. Afinal dizia o meu leitor, e com muita l�gica, que nas opera��es s�o as que se usam.

Na realidade se eu usar uma dessas m�scaras cl�ssicas usadas nas opera��es, protejo, embora n�o o fa�a muito eficiente os que est�o ao p� de mim, isto � quando eu coloco a m�scara, se estiver infectado n�o infecto os outros. Por�m esse tipo de m�scaras, n�o me protege a mim, se estiver ao p� duma pessoa infectada. Para isso � necess�rio usar uma das m�scaras do tipo que se usa para a tuberculose, as chamadas N95 como as que eu uso na fotografia. Em conclus�o, de o meu leitor tiver Sindroma Respirat�rio Agudo e usar a m�scara igual � que usam nas opera��es, provavelmente n�o infectar� os outros, por�m se n�o tiver a doen�a e for visitar uma pessoa com a doen�a precisa duma m�scara para se proteger, uma das tais m�scaras N95 como a que eu uso na fotografia.

Em resumo, a m�scara que eu uso n�o deixa entrar nem sair os micr�bios, a outra s� n�o deixa em parte, que eles saiam.



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Toronto,
5/Maio/2003
Edi��o 779

ANO XXIII

 

   
     Escreveu
    Dr. M. Tom�s Ferreira


 

 

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