Estes dois nomes que aparecem como título desta crónica são de dois jovens
Picoenses, o primeiro nascido na freguesia de São João e o segundo nascido na
das Lajes.
Começo pela CATARINA INÁCIO, filha do Osvaldo e da Fátima, que conheci desde
pequena e que ninguém dizia o que aquela alma encerrava, era uma criança
franzina, introvertida e envergonhada, mas o seu olhar era perscrutador e
inteligente. Víamos que o seu íntimo era austero e que ali estava a despontar
uma alma de artista. A vida apesar de ser calma e monótona para certas pessoas,
para mim, que fui habituado a conviver e a viver em determinados períodos
noutras paragens, ensinou-me a saber olhar os outros, olhos nos olhos, para
sentir, mesmo que num simples fogacho, o que lhes vai na alma.
Com a Catarina,
foi-me sempre difícil o seu contacto, apesar de me dar muito bem com os pais,
porque ela sempre se mantinha num nível elevado e por vezes defensivo. De
repente deixei de vê-la passar com as irmãs, ou colegas pelas ruas da Vila e
fui agradavelmente surpreendido com a notícia de que tinha ido para a cidade do
Funchal na Ilha da Madeira, para cursar Teatro, no meu tempo de estudante
chamava-se "Humanidades". Ei-la que regressa depois de tirar o curso à sua
terra natal e com a Maria do Carmo Costa, uma actriz nata que tem a seu cargo o
Grupo de Teatro MUTIERAMÁ, inaugura um espaço infantil, todo virado para a
representação teatral e é logo apontada a dedo pelos entendidos como uma
potencial ensaiadora e encenadora.
A Catarina para além de ser ainda muito
jovem tem o condão de cativar as crianças que a rodeiam, fascinadas pelo seu
olhar calmo, mas sério, benevolente, mas respeitador. Assim atrai e concentra a
atenção dos miúdos, que normalmente são traquinas, refilões e irreverentes. Ao
encenar duas peças "Grupo Mutieramá" e "Cavalgada para o Mar", deste modo e
apesar dos seus "verdes anos" e da inexperiência, guindou-se a um plano que
poucos ainda o terão conseguido.
Por outro lado NELSON MONFORTE, pode dizer-se que é (era) outra figura
desconhecida, do meio Lajense e Picoense. Não são todas as pessoas que têm
tempo de estar sentadas à frente dum écran de televisão para verem todas as
telenovelas, ou filmes, para mais, não existindo nas Lajes uma sala de cinema e
talvez por isso este nosso Homem do Pico, (mais um), tenha passado despercebido
aos mais arredios da "Caixa que mudou o Mundo". Para sentir um pouco a alma do
actor Picoense, "em alta" na cena portuguesa", palavras escritas por Manuel
Tomás referenciadas no Jornal "Ilha Maior" de 4 de Abril p. p., aproveitámos
algumas frases da entrevista concedida a Carmo Costa e José Manuel Caldeira em
exclusivo, ao Jornal "O Dever" de 3 de Abril, p. p., para melhor tomarmos
contacto com a sua personalidade e com a devida vénia as transcrevemos:
"Descobri o teatro porque queria ser actor. ...o teatro é uma escola para a
vida Tem de ter uma função lúdica e didáctica, deve passar uma mensagem forte.
Mas em primeiro lugar é entretenimento para o actor e para o
espectador...Lisboa deu-me o que tenho hoje. É uma cidade especial; lá sinto-me
como um pato no ninho. Estou perto da água, tenho cultura sempre à minha volta
e tenho a vantagem de estar a duas horas do Pico. Os teatros estão cheios em
Lisboa. Tive a sorte de poder trabalhar na melhor companhia de teatro do País
"O Bando" e de ter colegas de trabalho que me criticam
construtivamente... "Capitães de Abril" marcou-me por ter sido o meu primeiro
filme, por ter trabalhado com a Maria de Medeiros e pelo fascínio que sempre
tive pelo cinema. No "Gente Feliz com Lágrimas" marca-me tudo: a criação do
espectáculo, as pessoas, a casa, o público, as mantas sobre as pernas dos
espectadores, o facto de ter perdido dois quilos por espectáculo, o processo em
geral...Gosto de conhecer as pessoas e de ensinar o que aprendi. Queria deixar
uma marca um pouco de mim, fazer uma coisa importante na minha terra; queria
que as pessoas não vissem teatro mas que acreditassem no que estavam a ver e
aprendessem.
Penso que nos "Alucinados" as pessoas deram um salto em termos
culturais e a cultura deve ser acessível a todos. O grupo marcou-me pela
dedicação e pelo tempo que passámos juntos. No final deixou algumas palavras de
recomendação ao grupo Mutieramá, que passo a citar: "Continuem a criar, a
pensar no público, arrisquem, sejam um pouco ambiciosos, porque cada trabalho é
um novo trabalho e continuem juntos. É muito difícil manter um grupo unido; o
grupo tem quase dois anos, o que é uma vitória. Especialmente ao "Mutieramá"
queria dizer-vos que não há profissionais que tenham a genica que vocês têm.
Merecem vencer. Mostraram uma vontade enorme, um grande empenho. Continuem a
sentir-se vivos, enormes, soltem-se, divirtam-se e vivam uma vida interessante.
"Haja o que houver, estarei sempre com vocês". Depois das palavras acima
citadas acrescento para terminar que estas duas personalidades da cultura
picoense, ficaram a ser conhecidas dos nossos leitores, e exerceram no público
picoense um grande exemplo de solidariedade, porque deram-se ao teatro que é, e
cito as letras de Maria de Jesus Maciel: "a grande escola de arte e de humor,
um mundo inteligente de ensinar e de aprender o que é a vida".
Até para a semana, se Deus quiser.