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Ser humano: anjo ou dem�nio ?
O Elias, aquele, s� poderia ser "o maluco" mas sem nenhuma culpa, e aquela, a Irm� Dulce, s� poderia ser "a M�e dos Pobres de Salvador", por�m sem qualquer m�rito.

H� uma id�ia, quase como um ditado popular, que se algu�m deseja conhecer o que � um anjo deve observar o homem; da mesma forma, quem deseja conhecer o dem�nio, que observe o homem. H� uma diferen�a, por�m: o anjo, por ser anjo, necessariamente ser� sempre bom; tamb�m o dem�nio, exatamente porque � dem�nio, s� pode ser mau; o homem, maravilhosa ou perigosamente, pode ser qualquer dos dois. Quer dizer: temos gente como Betinho e Irm� Dulce, e como Fernandinho Beira-mar e Elias Maluco.

Entre os estudiosos do ser humano n�o h� consenso. Para n�o me alongar, vou citar apenas dois. Rousseau, fil�sofo franc�s do s�culo 18, acreditava que o homem, em sua natureza fundamental e original, � bom. O homem primitivo n�o tinha maldades, por isso Rousseau falava no "bom selvagem", a quem o meio social, a cultura, os usos e costumes corrompem. Por isso, para esse fil�sofo, a primeira obriga��o e cuidado de quem educa � preservar a crian�a das perversas influ�ncias do meio para que mantenha pura, em sua natureza de "bom selvagem". O segundo estudioso a quem queremos nos referir � Sigmund Freud, pai da psican�lise, morto em 1939. Para ele, o ser humano, sem as normas e valores da civiliza��o e da cultura, isto �, em seu estado original, revelaria pura animalidade e seria assassino, canibal e estuprador. Os qualificativos s�o do pr�prio Freud, para quem o instinto precisa ser domado pela cultura. Assim sendo, educador � aquele que ajuda o indiv�duo a integrar-se a seu meio cultural, respeitando as leis e os valores vigentes, para assim, ao contr�rio do que pensava Rousseau, deixar de ser selvagem.

Ent�o surge uma pergunta: Irm� Dulce foi um anjo de pessoa porque nela se preservou o "bom selvagem" ou porque se conseguiu que ela incorporasse os valores melhores e mais puros elaborados pela longa civiliza��o humana? Elias Maluco � um dem�nio porque a sociedade corrompeu a �ndole natural do "bom selvagem", ou apenas n�o foi poss�vel � civiliza��o construir nele um freio adequado aos instintos subjacentes da animalidade?

Ent�o, qual a fun��o do educador (fam�lia, escola, Igreja, sociedade...)? Preservar a boa e pura natureza original ou, por alguma forma de inculca��o de normas e valores, dominar a besta que � o homem em sua animalidade? As respostas n�o podem ser simplistas; a realidade humana � mais complexa. At� porque se, do ponto de vista dos americanos, George Bush � "anjo" e Saddam Hussein � "dem�nio", os iraquianos v�em exatamente o contr�rio.

Ent�o, como concluir? Uma primeira sa�da seria a resposta, aparentemente �bvia, chamada "caminho do meio", algo mais ou menos assim: o ser humano nasce nem bom nem mau. E tamb�m n�o s�o apenas as influ�ncias sociais que o tornam anjo ou dem�nio. Isso quer dizer que o ser humano nasce com capacidade para ser muitas coisas. O que ele efetivamente ser� resulta de constru��o pessoal, a partir de um projeto biogen�tico individual e �nico para cada ser, e de decis�es e op��es que faz com base nas influ�ncias do contexto s�cio-hist�rico em que vive. Uma segunda sa�da seria a cren�a no destino, pelo qual se acredita que, de forma misteriosa, poderosa e inexor�vel for�a impele cada indiv�duo por um caminho previamente tra�ado, e nada mais precisa ser explicado. Assim, o Elias, aquele, s� poderia ser "o maluco" mas sem nenhuma culpa, e aquela, a Irm� Dulce, s� poderia ser "a M�e dos Pobres de Salvador", por�m sem qualquer m�rito.

Como a primeira alternativa parece mais consistente, temos um consolo e uma esperan�a: � poss�vel acreditar que qualquer ser humano pode ter uma vida correta e boa, mesmo sem alcan�ar santidade. Por outro lado, � incontest�vel que ningu�m ser� santo ou dem�nio sem a contribui��o da sociedade e, tamb�m, sem que o pr�prio indiv�duo tenha contribu�do para tal com suas op��es livres e pessoais. E fica a pergunta: o que seremos amanh�, como pessoas e como sociedade? Nossas crian�as caminham para ser o qu� ? Fa�am suas apostas, senhores! Esperem a�! Apostar e ficar observando n�o vale. O que voc� est� fazendo para que a humanidade seja menos demon�aca e mais angelical? Ou est� bom assim?

* Paulo J. Rafael � jornalista, professor universit�rio e doutorando em Ci�ncias Pol�ticas e Administra��o P�blica pela AWU- American World University of Iow



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Toronto,
12/Maio/2003
Edi��o 780

ANO XXIII

   
   
    * Paulo J. Rafael
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