Hoje escolhemos para referir o nome dum HOMEM, que deu a cara pelos
direitos humanos na sua querida Pátria, Timor Lorossay, expondo a sua vida
e a sua reputação. Nos conturbados anos da invasão Indonésia, usurpando
aquele território à soberania portuguesa, à revelia das Nações Unidas, mas
com o beneplácito das Nações interessadas nas suas matérias primas, caso do
petróleo, como aconteceu nos nossos dias, os Estados Unidos, - será que a
história se repete? - nunca levantaram um dedo acusador para o ditador
Suarto, porque assim iriam perder os seus privilégios comerciais. Hoje como
ontem, o cenário é sempre o mesmo, mas...Deus não dorme.
No ano de 1983, o Papa João Paulo II nomeou D. Carlos Filipe Ximenes Belo,
administrador apostólico da Diocese de Dili. Depois de ser ordenado Bispo
em 1988, é finalmente nomeado Bispo da Diocese de Dili, capital de Timor
Leste.
Nasceu D. Ximenes Belo, numa aldeia de nome Vialacama a 3 de Fevereiro de
1948, em Timor Leste. Vinte anos mais tarde foi viver para Lisboa onde
frequentou o Liceu dos Salesianos em Estoril. Regressa a Dili (Capital) no
ano da Revolução dos Cravos (1974), mas dois anos mais tarde volta à
Capital Portuguesa para estudar Teologia na Universidade Católica.
Prossegue entretanto os seus estudos na Universidade Gregoriana em Roma e é
ordenado sacerdote em 1980, regressando no ano seguinte a Timor para
comandar os destinos do Colégio de Fatumaca, onde já anteriormente havia
leccionado. As suas aulas tinham quase uma intensidade dramática e os seus
alunos veneravam-no como um pai. A sua capacidade de entrega e de
aproximação aos mais jovens granjearam-lhe os maiores encómios e foi um
exemplo vivo para aqueles que sentiam bem viva o sentimento da liberdade e
da libertação do povo Timorense. O Vaticano mais tarde reconhecendo nele o
Pastor certo para aquele território e depois de muitas vicissitudes por que
passou, finalmente coloca-o na cátedra da Igreja Católica Timorense. Fez
andar a cabeça à roda a muitos políticos "de meia tigela", que viram nele
um colaboracionista da Indonésia, outros, os mais esclarecidos, viram nele
um defensor acérrimo dos direitos Timorenses. O que ele era na verdade, era
um grande diplomata, que com firmeza e por vezes com alguma arrogância,
afrontava a ira do Invasor Indonésio, condenando publicamente a violação
dos direitos humanos em Timor Leste, em defesa do povo maubere e por isso
foi-lhe atribuído conjuntamente com outro Timorense, José Ramos Horta o
Prémio Nobel da Paz em 1996. Resignou do cargo de Bispo de Dili, por
motivos de saúde e há um ano encontra-se em Lisboa.
A convite do Bispo da Diocese de Angra e Ilhas dos Açores, D. António de
Sousa Braga, esteve no Pico, na passada semana este grande lutador da
liberdade e dos direitos humanos para falar da paz. Depois de passar por
São Miguel, Terceira e Faial, foi a vez de no Pico cumprir um vasto
programa que incluiu a visita ao túmulo do Cardeal D. José da Costa Nunes,
na Candelária e nas Lajes assistiu a uma cerimónia de descerramento duma
lápide na casa onde nasceu o primeiro Bispo Picoense, que sendo de Macau,
igualmente foi também Bispo de Timor, Dom João Paulino de Azevedo e Castro
e visitou o seu mausoléu no cemitério da Paroquial Lajense. No salão da
Sociedade Cultural e Recreativa da Ribeira do Meio, deu uma autêntica lição
ao falar sobre o tema "A Paz", às numerosas pessoas que assistiram com
muito atenção e entusiasmo.
Antes teve lugar a inauguração da placa acima referida e foi palestrante na
cerimónia, o decano dos Escritores Picoenses, Ermelindo Ávila. Do seu
discurso e com a devida anuência do autor permito-me salientar as seguintes
frases:
"...os meus conterrâneos picoenses que, embora muitos deles não tenham
vindo hoje aqui a tomar parte nesta cerimónia simples e muita sentida, que
se reveste de tanto brilho com a presença ilustre de V. Ex.a. Rev.ma.,
estão certamente em espírito, recordando esses outros picoenses que um dia,
ao longo do século XX, daqui partiram para o Oriente, levando consigo a
Cruz de Cristo e uma vontade forte de implantar nas longínquas terras, que
os nossos Maiores descobriram e trouxeram para a Coroa Portuguesa, esse
Sinal Forte da nossa Fé Cristã. Timor esteve sempre no coração dos
picoenses, quer nos momentos de paz e tranquilidade quer quando a guerra
nele se instalou e causou o luto, a orfandade, a fome e a destruição.
Creia, Ex.a. Rev.ma. que todos nós sofremos com esses nossos irmãos, as
horas de tristeza e amargura. Acompanhámos o seu sofrimento e infortúnio
como, igualmente, as horas de triunfo que, graças a Deus, chegaram ainda a
tempo de restituir a paz, a tranquilidade e a prosperidade ao martirizado
Povo Timorense.
E a terminar disse: ..."o primeiro Bispo de Timor, Dom Jaime Garcia Goulart
, que andou pela nova Diocese, desde a sua criação, talvez em 18 de Janeiro
de 1941, até 3l de Janeiro de 1967 e que, no dizer de outro Missionário
Timorense, "em Timor se encontrava a razão de ser da sua vida", também com
ele esteve o Padre José de Brum, o Padre Isidoro Alves, recentemente
falecido, e igualmente o Padre José Carlos Vieira Simplício, um dos
primeiros sacerdotes ordenados pela nova Diocese e que felizmente temos
hoje connosco. Timor saiu há pouco de uma luta com o invasor, mas o seu
povo honrado, de novo trabalha denodadamente pela renovação da sua Terra,
agora independente e restituída à liberdade e, queira Deus, que igualmente
à paz. Passaram os anos, meses e dias de martírio. Que hajam chegado os
novos tempos de sólidos triunfos!
A V. Ex.a. Rev.ma., Senhor D. Ximenes Belo, Prémio Nobel da Paz, renovo a
minha modesta e respeitosa saudação.
Bem Haja!"
Depois deste momento cultural que mais uma vez aqui deixo como registo e à
consideração dos nossos leitores, despeço-me.
Até à próxima, se Deus quiser!