LEIA
 � VISITANDO O PIER 21
 � LEMBRAN�AS
   DE OLEIROS
 � " ENCONTRO
   INESPERADO
   " C O N T O
 � Fernando Feliciano
   de Melo
 � EM OFF
 � DIA DOS A�ORES
   EM TORONTO
 � CR�NICA PICOENSE
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" ENCONTRO INESPERADO "
C O N T O

"As duas ou tr�s vezes que jantamos com voc�s, voltou a prosseguir a Henriqu�ta, modificaram por completo a nossa vida familiar. Meu marido sempre que lhe servia as refei��es desenchabidas que preparava, vinha logo com a Laura para o barulho; aquilo � que � uma cozinheira! N�o me surpreende que o Napole�o esteja fora da marca; aquele felizardo teve sorte com o casamento!
- Nunca me sensurou abertamente, mas as compara��es com tua mulher, bem o sabia, eram recrimina��es indirectas. Tinha de fazer qualquer coisa para acabar com elas e a �nica forma, seria convencer meu marido a mudarmo-nos para outra cidade.
Contava de antem�o que ele n�o ofereceria resist�ncia � minha ideia."
- Como pudeste fazer tal coisa a teu marido? Henriqu�ta, cortou o Napole�o, incapaz de se conter. Sabias como ele era feliz no col�gio onde ensinava, no meio em que vivia e tinha todas as suas amizades!
�Foi crueldade e egoismo impensado da tua parte, o t�-lo feito!�Rematou o inveterado comil�o
"- Que queres?� - agora � tarde!.. A minha est�pida veleidade, Joaquim!� Paguei-a com a vida, respondeu tristemente a Henriqu�ta.
Sabia que se fic�ssemos por ali, cedo ou tarde teria de mudar o g�nero de cozinha que usava. Por esse tempo, acredita-me, n�o podia prever as consequ�ncias! ..."
- N�o vale a pena recriminares-te mais, minha amiga, ambos exager�mos nos nossos caminhos, tentou consolar o Joaquim.
Meneando a cabe�a como a concordar a Bandeira continuou:
- Julgo ter chegado o momento de falar-mos a s�rio de um plano, que possa de algum modo, trazer felicidade aos dois seres que am�mos na Terra e vivem sofrendo pelos nossos abusos, prop�s Henriqu�ta Bandeira, a mais energ�tica das duas sombras, envolvidas naquele plano de salva��o tardia.
- Apoiado, aquiesceu o Napole�o, como se pretendesse por em movimento um ex�rcito; j� tens algum ?
- J�, disse de m�os nos quadris a sombra esquel�tica, que tinha os l�bios entreabertos num pren�ncio de sorriso.
- E qual � ?
- Cas�-los, respondeu a estrategista.
- N�o achas que poder�amos olhar para outras solu��es? Quiz saber o Joaquim, meio desapontado com a sugest�o.
- Olha para ele! ... Zombou a Bandeira, Parece-me haver ciumes a� para o teu lado; por Deus homem, joga-os fora; aqui n�o � possivel trazer desses sentimentos ruins, sem correres o risco de fazer mal a tua mulher, a quem queres ajudar.
- N�o � bem isso� Tu sabes?� a pobre da Laura � t�mida!...
- Se vamos olhar para esse aspecto, o meu marido tambem � acanhado. Ambos precisam um ligeiro empurr�o, que s� n�s lhes poderemos dar, caso contr�rio, n�o ir�o a lado nenhum sem uma ajuda.
- Pensa s� meu amigo, a Laura voltar� a ter um apreciador dos seus pratos, o que � um dos seus maiores prazeres e o Ac�cio, alguem para amenizar a aridez e solid�o em que se encontra!� Sei bem que ele � incapaz de viver s�.
- Est� bem, acabaste por me convencer, concordou o Napole�o, a quem estava a custar aceitar a derrota, naquela escaramu�a.
- M�os � obra, concluiu a Bandeira.
De novo as duas sombras apertaram as m�os. Como da primeira vez, elas passaram atrav�s uma da outra, sem que desta feita tivessem manifestado espanto. Tinham de por de parte tal gesto de cortezia, que n�o fora idealizado para aquelas paragens!

* * *

A not�cia vinha nos jornais:
"O professor Tomaz Bar-reto, demitiu-se do seu cargo de professor secund�rio no Col�gio dos Espimhos, afim de ir residir para o estrangeiro. O lugar encontra-se vacante e qualquer professor com as credenciais necess�rias, pode fazer a sua aplica��o na secretaria deste estabelecimento de ensino."
Ac�cio mal podia acreditar em tal coincid�ncia. Tratava-se do mesmo col�gio e da mat�ria que antes lecionara. Podia ver naquela not�cia, uma resposta ao desespero dos seus �ltimos tempos e sem saber porqu�, a imagem da esposa veu-lhe ao pensamento. Como num sussurro, a vis�o que ele n�o podia enxergar, segredou-lhe :
- Vai, n�o tenhas receio, estou a trabalhar para isso! Esse lugar est� � tua espera!
No dia seguinte, ap�s as devidas formalidades, o professor Ac�cio Bandeira era pela segunda vez admitido � sua antiga classe na escola dos Espinhos.
A pouco e pouco alguma ordem come�ava a estabelecer-se na sua vida.
Agora era tempo de refazer velhas amizades.
Em sonhos sua mulher encorajava-o a tal. Pelos vistos, a esquel�tica senhora nossa conhecida, n�o tinha por h�bito perder tempo, apesar do seu aliado n�o ter ficado muito entusiasmado com os planos de ver a mulher deitada com o seu amigo.

(continua na pr�xima edi��o)

Toronto - 1989
Leia do autor:
A Ilha do Dolphin
e Folhas Levadas
P'lo Vento


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Toronto,
19/Maio/2003
Edi��o 781

ANO XXIII

   Em Memoria
   F. Feliciano de Melo
    23/2/2022 - 13/5/2021
   

 

 

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