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UM PRIMEIRO MINISTRO MEDROSO
 
Uma Comunidade ofendida

Na altura da comemora��o dos cinquenta anos da forma��o da comunidade portuguesa do Canad�, o Primeiro Ministro Dur�o Barroso, tem medo, de visitar os seus compatriotas que vivem em Toronto. Em 33 anos, nesta regi�o do Ont�rio, incluindo cinco durante o per�odo do salazarismo, esta � a maior afronta que presenciei, � nossa comunidade.

Uma carta aberta � pessoa que se intitula, representante de todos os portugueses, mas que os abandonou quando eles mais precisavam da sua presen�a, causando ao mesmo tempo estragos irrepar�veis no valor de muitos milhares de d�lares �s Associa��es portuguesas do Ont�rio. O Governo portugu�s deveria compensar a comunidade pelo preju�zo financeiro que a falta do Primeiro Ministro causou e pedir desculpa pela afronta que foi feita aos portugueses de Toronto.

Exmo. Senhor Primeiro Ministro

Acabo de receber um convite para um jantar na Embaixada Portuguesa, em Otava, para comemorar a sua visita � comunidade portuguesa do Canad�, que como � do conhecimento de V. Ex�. , comemora este ano cinquenta anos de emigra��o oficial para este pa�s. Noutras circunst�ncias, teria sido, para mim uma honra e um prazer, comparecer a esse jantar, tanto mais que em ocasi�es anteriores, tivera a oportunidade de ser recebido na resid�ncia daquele que representa Portugal neste pa�s, duma forma gentil e am�vel, num ambiente, requintado e verdadeiramente portugu�s.

Infelizmente, dada a afronta que V. Ex.� fez � comunidade portuguesa, � meu dever n�o s� recusar o convite mas tamb�m incitar outros portugueses, nas mesmas circunst�ncias, a fazer o mesmo.

� poss�vel que V. Ex.� esteja aterrorizado com a perspectiva de contrair o sindroma respirat�rio agudo, ou que esteja rodeado de acessores t�o incompetentes que lhe tenham aconselhado a tomar a decis�o de n�o visitar os portugueses, numa altura em que eles mais necessitavam da sua presen�a. No entanto, embora o medo seja um sentimento dif�cil de vencer, e a incompet�ncia dos que o aconselham, sejam obst�culos dif�ceis, um verdadeiro l�der pode e deve ser capaz de os ultrapassar. Afinal V. Ex.�, como eu esteve ligado a movimentos estudantis, embora mais radicais que os meus, e pelos vistos nessa altura n�o tinha medo da PIDE. Tamb�m estou convencido que o seu antecessor Dr. Francisco S� Carneiro n�o teria fugido �s suas responsabilidades. Tenho tido a oportunidade de o ouvir dizer, que se intitula um representante de todos os portugueses que existem no mundo -e � preciso lembrar que os votos dos luso-canadianos contribu�ram para a posi��o eleitoral do seu partido por isso � com surpresa que constato que tem medo de visitar Toronto.

Devo notar, que o outro representante dos portugueses desta �rea, o Primeiro Ministro Jean Chr�tien, no auge do surto desta doen�a, visitou o cora��o da comunidade sino-canadiana de Toronto, aonde tinham aparecidos os primeiros casos, misturou-se com o p�blico e at� almo�ou num restaurante da chamada China Town.

Calcule V. Ex.�, a minha tristeza e at� vergonha quando, um colega meu canadiano de outra origem �tnica, me dizia em tom um pouco depreciativo, que n�s luso-canadianos, que and�vamos sempre a gabarnos dos feitos dos Albuquerques e dos Cabrais, t�nhamos um Primeiro Ministro "medroso", para usar as palavras dele, quereceava visitar os seus compatriotas, em Toronto.

O meu colega, que ainda recentemente visitou Portugal, perguntava-me sarcasticamente, que se houvesse um surto do Sindroma Respirat�rio Agudo em Sintra, aonde afinal h� muito menos portugueses que em Toronto, iria o Primeiro Ministro de Portugal recusar-se a visit�-los, e quem sabe, talvez fugisse para as Berlengas ou a Ilha da Madeira.

Antes de explicar as raz�es mais profundas para recusar-me a ter a honra de jantar com V. Ex.� tamb�m quero esclarecer que tenho uma garganta muito sens�vel ao fumo, e dado que em fun��es portuguesas os nossos compatriotas, que pelos vistos muito se preocupam com o famigerado sindroma, mas fumam que nem umas chamin�s, receava que me desse algum ataque de tosse, e lan�asse o p�nico na sala obrigando V. Ex.� e a sua comitiva a abandon�-la em p�nico.

Voltando � decis�o de V. Ex�., de abandonar os portugueses desta terra quando comemoravam os cinquenta anos desta comunidade, numa altura em que mais precisavam da sua ajuda, quero lembrar-lhe que, como fez notar o Senhor Ministro dos Neg�cios Estrangeiro em Halifax Dr. Ant�nio Martins da Cruz, a vida nesta cidade decorre normalmente. Continuam a decorrer prociss�es, como a do Senhor Santo Cristo, bailes, festas, casamentos e enterros felizmente de nenhum portugu�s atingido por o Sindroma Respirat�rio Agudo, pois dos mais de 300.000 que por c� vivem, nem um teve a doen�a. � caso para dizer que se o Senhor Primeiro Ministro contra�sse o Sindroma Respirat�rio Agudo, poderia ir para a hist�ria como o primeiro entre a nossa gente, a ter semelhante doen�a. A prop�sito, e eu como profissional, sei que o medo � uma coisa bastante dif�cil de vencer, no entanto se V. Ex.� se tivesse vindo a Toronto, teria segundo um estudo cientifico mais probabilidades de ser atingido por um raio duas vezes, do que contrair a doen�a. Tamb�m, uma vez que voa com frequ�ncia, as suas possibilidades de estar envolvido num desastre de avia��o s�o muito maiores do que ser atacado pela doen�a em quest�o.

J� reparou, Senhor Primeiro Ministro, o erro politico que cometeu em deixar-se vencer pelo medo? Se tivesse vindo a Toronto, teria tido a oportunidade de aparecer nas fotografias dos jornais e nas imagens da televis�o como um dirigente que estava ao p� do seu povo num momento de perigo, apesar de na realidade n�o haver perigo nenhum.

Calcule que bom seria, se os media em Portugal tivessem ouvido reproduzidas as palavras do Senhor Ministro dos Neg�cios Estrangeiros, que quando lhe perguntaram o que � que ele tinha feito para se proteger da doen�a em Toronto, respondeu, NADA, isto � o mesmo que os outros luso-canadianos est�o a fazer -continuar com a sua vida normal! Garanto-lhe, que se o tivesse feito, teria ganho uns largos milhares de votos e a admira��o e o respeito de todos os portugueses.

A prop�sito, fiquei espantado e triste, ao notar que V. Ex.� que teve medo de visitar Toronto, enviou para c� o Senhor Secret�rio de Estado das Comunidades. Ser� que V. Ex�. tem a coragem de sacrificar o seu colaborador, ao envi�-lo para t�o sinistra �rea como � Toronto?

Eu sei que � dif�cil argumentar logicamente, com uma pessoa que est� com medo, por�m posso garantir-lhe Senhor Primeiro Ministro que a vida nesta cidade de-corre duma forma perfeitamente normal.

Quero por�m lembrar-lhe, que mesmo que existisse uma situa��o s�ria, era a obriga��o do Primeiro Ministro dos portugueses, ir apoi�-los onde eles se encontrassem, fosse em Vila Franca de Xira, Lamego, Lagos, Ponta Delgada ou Toronto, aonde diga-se de passagem h� menos gente da nossa, que nas povoa��es que citei.

No momento em que a pr�pria Organiza��o Mundial da Sa�de, levantou a interdi��o de viajar para Toronto, n�o h� justifica��o para cancelar a visita. Claro que h� sempre perigos em viajar e � poss�vel contrair doen�as noutras terras, mas tamb�m � o dever dum governante estar ao p� dos seus compatriotas. A prop�sito de perigos de visitar outras terras, todos os casos de tuber-culose, que tratei em crian�as luso-canadianas, foram adquiridas em Portugal, e nem por isso eu aconselho as fam�lias portuguesas a n�o levarem os seus filhos a visitar a terra dos seus antepassados.

A prop�sito, gostaria de informar, que a minha afirma��o de que o risco de contrair o sindroma respirat�rio agudo � m�nimo, � n�o s� baseada no facto de viver em Toronto, e simples bom senso, mas tamb�m a ser um membro do Conselho Distrital de Sa�de, o Organismo Consultivo do Minist�rio da Sa�de, respons�vel pela planifica��o dos servi�os de sa�de da �rea de Toronto.

Na realidade, ele o risco de contrair o Sindroma Respirat�rio Agudo � m�nimo, e o n�mero de 30 mortos em 5 meses, diga-se de passagem uma parte delas entre os 80 e 96 anos, � tr�gico mas n�o assustador, especialmente se tivermos em conta o n�mero de pessoas que morrem em Portugal, num fim de semana com ponte.

Um efeito nefasto da sua recusa em vir a Toronto, foi o mau exemplo que deu. Num momento, em que as rela��es entre os portugueses que vivem em Portugal e os que residem em Toronto, se t�m tornado dif�ceis, devido a certas not�cias sensacionais e alarmistas dos media portugueses, V. Ex�. em vez de contribuir para o esclarecimento dos nossos compatriotas, veio exacerbar o p�nico e ajudar a criar uma situa��o em que os luso-canadianos s�o recebidos em Portugal, como os leprosos na idade m�dia. Tamb�m muitos portugueses portugueses, que viriam a Toronto participar em actividades culturais, cancelaram as suas viagens, porque a atitude de V. Ex�., veio refor�ar a no��o que esta cidade � um s�tio perigoso, aonde centenas ou milhares de pessoas est�o a morrer. Se V. Ex�. tem medo, n�o � de admirar, que eles tamb�m o tenham.

Finalmente, Senhor Primeiro Ministro quero abordar uma outra consequ�ncia s�ria da sua atitude, de � �ltima hora fugir ao compromisso tomado.

Na realidade, j� estamos de certa medida habituados a sermos tratados como portugueses de segunda, e na realidade n�o tomamos muito a s�rio a maioria dos pol�ticos portugueses que aqui aparecem, a maior parte deles interessados al�m do passeio, a instigar-nos a investir o nosso dinheiro em Portugal ou a obter o nosso voto. Devo-lhe at� confessar que com algumas excep��es, como a Dr�. Manuela de Aguiar, a comunidade n�o v� os pol�ticos portugueses como sendo "um dos nossos". Recebemo-los bem, com cortesia, mostramos o nosso amor pela P�tria m�e, mas n�o os tomamos a s�rio. � meu dever informar V. Ex�.que acaba de dar uma contribui��o enorme para fomentar e disseminar este sentimento. O seu nome ser� lembrado por muitas gera��es de luso-canadianos, como uma das pessoas que mais dano fez � nossa comunidade.

Se Vossa Excel�ncia, tivesse cancelado a sua visita h� uns meses, ter�amos obviamente ficado desapontados, mas esse � uma coisa a que infelizmente j� estamos habituados, por�m faltar � �ltima hora, com medo de contrair uma infec��o, cujas possibilidades eram m�nimas, � indesculp�vel, tanto mais que uma parte das comemora��es da Semana de Portugal, desta vez engrandecidas pelo facto de estarmos a comemorar os 50 anos da comunidade portuguesa, englobavam algumas actividades que se centravam � volta da sua visita, particularmente um jantar de gala. Essas actividades, exigiram um investimento de dezenas ou at� centenas de milhares de d�lares que se perderam, por V. Ex�. � �ltima da hora n�o comparecer.

Esse dinheiro vai ser pago pelas associa��es e clubes portugueses do Ont�rio, assim como a sua organiza��o de cupla a ACAPO. As consequ�ncias financeiras da atitude de V. Ex�. ir�o levar anos a ser reparados e constituir�o uma n�doa negra na hist�ria da comunidade.

Na realidade Senhor Primeiro Ministro, n�s poder�amos ter passado perfeitamente sem a sua vinda se nos tivesse avisado com anteced�ncia, por�m a sua fuga � �ltima da hora, ter� repercu��es financeiras s�rias no movimento cultural e associativo da comunidade.

Ao longo dos anos, por v�rias vezes as organiza��es portuguesas do Canad� t�m sido lesadas, por artistas e outros convidados, que nos levam a fazer investimentos financeiros e � �ltima hora n�o comparecem.

O Senhor Primeiro Ministro, ir� ficar na hist�ria da comunidade, como a pessoa que mais preju�zos financeiros deu ao movimento associativo portugu�s, conseguindo bater a cantora Linda de Souza, que h� quase 15 anos, por altura doutra Semana de Portugal, teve uma birra, ao que parece por causa do lugar no avi�o para o seu namorado, n�o ser em primeira classe, recusou-se a vir a Toronto, causando um dano financeiro, que quase destruiu o movimento associativo portugu�s. Infelizmente, � semelhan�a da Linda de Souza, n�o temos possibilidades de levar V. Ex�. a tribunal, para recuperar o dinheiro perdido. No entanto, Senhor Primeiro Ministro, uma vez que o preju�zo foi causado pela sua aus�ncia, seria justo que o Governo Portugu�s compensasse a comunidade, pelos preju�zos financeiros que causou. Afinal meia d�zia de dias, da sua estadia e da sua comitiva em Toronto, teriam custados uns bons milhares de d�lares.Claro que tamb�m gostar�amos que apresentasse desculpas pela afronta que nos fez. Senhor Primeiro Ministro, por natureza, sou bastante tolerante, alguns dizem at� demais, por�m como diz o nosso povo quem n�o se sente n�o � filho de boa gente. Posso-lhe garantir, que mesmo que alguns luso-canadianos, entusiasmados com a perspectiva de falarem com o Primeiro Ministro, lhe digam que est� tudo esquecido e perdoado e que V. Ex�., est� no seu direito de estar assustado, posso garantir-lhe que a maioria dos portugueses de Toronto pensem como eu. Nesta medida como portugu�s, membro desta comunidade e eleito para o lugar de Conselheiro, � minha obriga��o transmitir-lhe a opini�o dos luso-canadianos Se o Senhor tivesse tido a coragem de contactar o povo portugu�s de Toronto, e n�o apenas aqueles como eu que constituem a elite que vai aos jantares de gala, veria que ofendeu de forma profunda a maior comunidade portuguesa da Am�rica do Norte -a que vive na regi�o de Toronto-.

Sem mais, queira aceitar os meus mais cordiais cumprimentos

Dr. Manuel Tom�s B. Ferreira
Comendador de Ordem de M�rito
Conselheiro das Comunidades



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Toronto,
2/Junho/2003
Edi��o 783

ANO XXIII

 

   
     Escreveu
    Dr. M. Tom�s Ferreira

   

   


 

 

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