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 � UM PRIMEIRO
  MINISTRO MEDROSO
 � A�UCENAS, L�RIOS
   & MITOS (2)
 � " ENCONTRO
   INESPERADO
    " C O N T O
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" ENCONTRO INESPERADO "
C O N T O

- Pode confiar em mim, respondeu t�mida e curiosa a D. Laura, ao mesmo tempo que sentia aumentarem-lhe as pulsa��es do cora��o.
Apertando as m�os com um certo nervosismo, o Ac�cio come�ou:
- Gostaria que jant�ssemos juntos todos os Domingos, ou melhor todos os dias, mas a nossa sociedade nestas coisas come�a logo a meter o nariz e a fazer coment�rios desagrad�veis. Como nenhum de n�s tem qualquer motivo, suponho, que possa impedir que jantemos juntos para o resto dos nossos dias, proponho simplesmente que nos liguemos pelo matrim�nio.
D. Laura a quem o sangue subira �s faces, estava de olhos no ch�o, muda como um penedo. No seu �ntimo uma onda de prazer, havia-a tomado por completo e duas l�grimas afloraram-lhe aos olhos, sem que desta vez fossem dedicadas ao Napole�o.
O Ac�cio surpreendido do seu pr�prio arrojo, olhava com certa inquieta��o para a face transtornada da sua amiga e para as l�grimas, a que equivocado, dera uma interpreta��o errada. .
- A Laura perd�e-me se a molestei com a minha proposta de casamento. Fui impulsivo, deveria ter esperado mais alguns meses...
- Pe�o-lhe que n�o fa�a de mim uma ideia errada, n�o queria ofend�-la! Notando a afli��o que se estampava no rosto do Bandeira e j� recomposta, tomando-lhe a m�o carinhosamente, a D. Laura disse:
- N�o se aflija meu bom amigo, aceito a sua proposta, que o meu marido l� no c�u, ou onde quer que se encontre, por certo aprovaria.
- Aprovaria, como quem diz, resmungou uma sombra anafada, perto do reposteiro, com um sorriso a geito de careta� Uma outra sombra magrizela havia-lhe pisado os calos.
- Podemos come�ar as formalidades legais, continuou a dona da casa, que nos permitam jantar juntos todos os dias, sem receio de bisbilhotices. N�o somos crian�as e sinto que o Joaquim e a Henriqu�ta aprovariam a nossa decis�o.
- E� curioso, tenho o mesmo sentimento, apoiou o Bandeira; quase me sinto tentado a afirmar, sentir a m�o deles neste nosso romance!
- Quem sabe?... Disse a Laura com um arrepio.
Com o acordo assentado para uma pr�xima uni�o, chegara de novo o momento para as duas sombras conspiradoras, debandarem sorridentes daquela casa.
- Est�o a ir depressa os marotos, comentou a Henriqueta.
- Pudera n�o, respondeu o Joaquim, com uma mulher bonita, carinhosa e boa cozinheira, n�o h� que perder tempo!�

* * *

A cerim�nia fora simples e a recep��o que se seguira, limitada a meia duzia de amigos �ntimos de ambas as partes. Os Bandeiras quase n�o haviam tocado no jantar, a felicidade n�o os deixava comer.
Quando chegou o momento dos noivos e convidados se retirarem, o Napole�o, que desde o princ�pio, na companhia da sua amiga, viera a seguir o desenrolar dos acontecimentos, com interesse m�rbido, que a estrategista a seu lado viera controlando, perguntou-lhe:
- Que fazemos agora? Achas que devemos segui-los?� Para o caso de precisarem qualquer coisa!�
- Quanto ao resto, sabem como proceder e sentir-se-h�o melhor sem os nossos aux�lios. - Proponho que os esque�amos! A nossa miss�o terminou!
- Parece-me que tens raz�o Henriqu�ta, � tempo que cuidemos de n�s.
- A prop�sito, meu querido amigo, com a az�fama dos �ltimos dias, noto que tens vindo a perder algum peso, acho-te mais elegante! Toma porem cuidado, n�o quero que adoe�as!�
- Escuta minha sereia, o peso que me falta, ganhaste-o tu, o que diga-se de verdade, te torna bastante sedutora e � um bom sinal de sa�de!...
- Malandro, a falar de sa�de, quando nem sequer vida tem! Devia ter-te conhecido no meu passado, quando era ainda livre� N�o dirias esses galanteios impu-nemente; agarrar-me-ia a ti, fazendo-te o meu imperador!
- Podes crer que se tal coisa tivesse acontecido, duas das minhas primeiras batalhas contigo, teriam sido travadas na cozinha, fazendo-te cozinhar e obrigando-te a comer!
- E quem sabe?� Talvez fosses mesmo capaz de as vencer!
Com estas �ltimas palavras, enla�ando-se, no que parecia um tardio devaneio, ambas as sombras desapareceram no espa�o.

Toronto - 1989
Leia do autor:
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e Folhas Levadas
P'lo Vento


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Toronto,
2/Junho/2003
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