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O ESPADA

Ningu�m nos anos sessenta conhecia o Eduardo, pelo seu nome de baptismo. Todos o apontavam a dedo como sendo O ESPADA. Era muito irrequieto fora das aulas e um atleta de prest�gio. Naqueles anos todos os estudantes dignos de tal nome praticavam desporto, normalmente o futebol. A Ac��o Cat�lica da Matriz tinha um campo de terra batida onde os estudantes se reuniam normalmente pela tardinha depois das aulas tendo quase sempre a colabora��o do saudoso e sempre alegre Padre Correia.

O Espada mal se dava por ele nas aulas, porque era muito calado e s� respondia quando o professor o interrogava. Era um aluno mediano, longe dos sabich�es Carlos Frai�o, Pinelo, Olavo Cunha Leite, Carlos Fagundes ou Helder Castro. Que me lembre nunca perdeu qualquer ano e jogava no Atl�tico, enquanto eu jogava no Sporting, porque n�o tinha lugar no Fayal Sport, que era o meu clube de cora��o, por equipar de verde e que naqueles recuados anos tinha uma equipe de futebolistas de peso, dos quais me lembro: Cristo, Almeida (Batata), Fernando Faria, Gaspar Neves, Jo�o Tennemnem, Armando, Vasco, Amilcar Quaresma e C�c�. Apesar de ser do S.C.P., nunca entendi muito bem porque o Sporting equipava de encarnado, mas quando entrava em campo envergando a camisola esquecia tudo, porque o que na realidade gostava era de jogar futebol fosse como fosse.

Jog�mos v�rias vezes na mesma equipe nos jogos da Ac��o Cat�lica, porque mor�vamos perto um do outro nas Ang�stias. Ele na Rua do Meio e eu na Rua da Ara�nha Velha, mesmo em frente �s ondas do mar em Porto Pim que fustigavam com seus salpicos as gelosias das janelas do quarto onde dormia com o Nat�lio, hoje na Su�cia e o Manuel dos Rosais, que emigrou para R. Island e � professor num Liceu local.

�s reuni�es da Ac��o Cat�lica estava sempre presente com o benepl�cito do Padre J�lio da Rosa que por sinal foi o introdutor da obra publicada j� este ano pelo Eduardo Bettencourt, "O Espada", com o sugestivo t�tulo OS RATOS DA DOCA. Mas voltando ainda um pouco atr�s. Deixei de ver O Espada porque a vida d� muitas voltas. N�o sabia que havia emigrado para New Bedford. Certo dia estava deambulando numa festa de Ver�o por estas paragens Picoenses, quando algu�m se me dirige e pergunta: "Ainda te lembras de mim?". A essas perguntas levo algum tempo a responder para ter tempo de colocar em ac��o os neur�nios e assim procedi. Eram muitos anos de aus�ncia, mas l� encontrei a fila do Liceu onde figurava o nome do Espada. Abra��mo-nos e ainda hoje sempre que nos vemos, cumprimentamo-nos efusivamente. � a saudade e a s� camaradagem daqueles tempos que muitas vezes quer�amos transmitir aos nossos jovens de hoje. Depois da aventura da emigra��o, veio a aventura do regresso. Deixou o Faial e as Ang�stias para se radicar em Santa Luzia com a Esposa. O mar foi sempre um fasc�nio e apesar de regressar, a ele voltou j� v�rias vezes. Tem inclusivamente uma empresa de "Observa��o de Cet�ceos, no Cais da Madalena.

Escreve ele na contra capa: "No regresso radicou-se no Pico e, a�, descobriu o gosto de participar escrevendo. Colabora com o seman�rio Picoense "Ilha Maior" e com o Di�rio Faialense "Correio da Horta", e acrescento: Quem diria? O livro ora publicado � um historial das viv�ncias de meio s�culo nas Ilhas do Grupo Central e Ocidental do Arquip�lago, mas tamb�m se encontram refer�ncias, n�o t�o minuciosas �s Ilhas do Grupo Oriental.

Levantando um pouco do v�u da escrita inserta n'OS RATOS DA DOCA, transcrevo tr�s par�grafos; dois do primeiro cap�tulo do livro e o terceiro do segundo cap�tulo:

..."Com o passar dos anos, a tend�ncia de se fazer da ba�a o ve�culo necess�rio � manuten��o e sustento familiar aprofundou-se e, no seu interior, foi-se enraizando um h�bito que legalizou a actividade desenvolvida. Roubar para comer n�o era pecado. Temia-se mais a Deus do que � lei.

Baseados neste princ�pio e na certeza de puni��o benevolente, a experi�ncia aprofundou um conhecimento tal que a naturalidade dos actos lhes dava legalidade. Surgiram assim OS RATOS DA DOCA."

"Do bairro das Pedreiras, passando pelo Pasteleiro, Bairro Mousinho de Albuquerque, Bairro da Lata, e de uma ou outra freguesia, vinham sempre que necess�rio os Ratos da Doca. Fosse qual fosse o trabalho, era executado tendo sempre em conta a exig�ncia de quem pagava sem nunca esquecer a necessidade extra de quem o executava. Cientes de que a soldada ou o dia estavam ganhos, havia que procurar algo mais que se pudesse meter debaixo do casaco, nas pernas das cal�as, debaixo do bon�, no saco da comida ou ent�o devidamente acondicionado para que quando ca�sse a noite se fosse buscar."

Ler este livro recupera um passado que caiu no esquecimento de letrados do nosso tempo. Porque hoje � feio falar-se das baleias que se arpoavam, dos navios que transportavam em oito dias de viagem por vezes bastante tormentosa as pessoas para o Continente, ou das oficinas que na Horta reparavam e socorriam os navios estrangeiros que passavam entre o Canal Pico-Faial para "fazer aguada", deixar "correio", "reparar avarias", - que podia ir dum simples rombo � recoloca��o do leme ou da h�lice - ,ou deixar algum tripulante ou passageiro doente ou acidentado.

De leitura acess�vel e vern�cula l�-se dum f�lego. Li-o em cinco horas e fiquei satisfeito. Houve momentos escritos que me identifiquei com eles. � pena que somente tenham sido editados 500 volumes. Os estudiosos devem consult�-lo e os saudosos devem l�-lo e reverem-se nele. Foi o que me aconteceu. Parab�ns ESPADA, pela tua sinceridade e sentido de oportunidade que colocas-te nas 195 p�ginas do teu livro. N�o pares por aqui.

Caro leitor, se ainda n�o o adquiriu � tempo de faz�-lo, porque a nossa hist�ria ribeirinha est� a perder-se, porque inclusivamente j� perdemos o nosso territ�rio a que t�nhamos direito, as duzentas milhas mar�timas.

At� para a semana se...Deus quiser!




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Toronto,
30/Junho/2003
Edi��o 787

ANO XXIII

    Por: Paulo Lu�s �vila

 


 

 

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