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UM PESCADOR SOLIT�RIO!


Nestas paragens existem ainda hoje muitos pescadores solit�rios.

Nunca consegui descobrir com exactid�o a causa de tal isolamento, no entanto julgo que se trata dum trauma psico-social que atormenta os pescadores, causando-lhes uma desconfian�a e um certo mal quando est�o perante os outros colegas de profiss�o, uma vez que a maioria � detentora heredit�ria das chamadas �marcas�, - que s�o marcos ou pontos de orienta��o baseados em acidentes de terreno, casas de habita��o, postes de ilumina��o ou dos correios � transmitidos de viva voz de pais para filhos ao longo de gera��es.

H� uns quinze dias atr�s, fomos convidados, uso o plural, porque o convite foi endere�ado a outra pessoa que se encontrava a passar comigo uma temporada e por tabela assim usufrui de tal oportunidade, para ir � pesca das garoupas. J� tardava o dia, porque o mau tempo ia adiando esta aventura primeira para a minha companheira, em mar aberto e revolto. No dia anterior providenciou o isco preferido das garoupas, que � o camar�o vivo. Eram tr�s da tarde quando embarc�mos no Pont�o do Caneiro, a p� enxuto, porque com a mar� cheia tal n�o se verificaria e rum�mos a norte, passando entre a Baixa do Norte e a Carreira, em direc��o � costa da Ribeira do Cabo e da Silveira.

Primeiramente foram lan�adas ao mar as redes para que durante a noite o peixe malhasse e ficasse preso nas mesmas. As oito redes sa�ram com alguma rapidez borda fora, orientadas, manuseadas e desenri�adas pelo pescador que nos transportava no seu barco de boca aberta, - tendo no in�cio e no fim das mesmas, duas b�ias sinalizadoras e identificativas com o nome da lancha. S�o poucos entre os da sua classe que o sabem fazer t�o bem como ele. Naquele dia por�m o mar estava �mexidote� e a minha parceira, entrou numa fase de enjoo que s� terminou quando colocou os p�s em terra firme.

Mas, apesar de estar enjoada, ainda conseguiu puxar as trinta bra�as de linha 120 de nylon para a borda e colocar no leito de popa duas garoupas �maneiras�, mas... a pescaria ficou-se por ali. Como ia �rigado�, com linha de seda e anzol, sem qualquer experi�ncia para aquela pesca, fiz figura de �recruta� num pelot�o de �prontos�, e apesar de ter iscado duas ou tr�s vezes nunca senti �picar� peixe, mas quando trouxe o anzol e a chumbada para a borda o que encontrei foram apenas restos do camar�o j� ro�do pelos dentes dum peixe que podia ter sido muito bem a tal garoupa que ambicionava prender no meu anzol, nem que fosse pela barriga.

Entretanto o pescador solit�rio, que naquele dia nos fez o favor de o n�o ser, paulatinamente l� ia trazendo � borda e depois de as retirar do anzol ia-as depositando, as garoupas que pescava, uma a uma no leito de popa e algumas eram de bom tamanho, �ptimas para um caldo. Em menos duma hora apanhou um balde de quinze litros de pl�stico a deitar por fora e pela segunda vez naquele dia rumou ao porto definitivamente com a pescaria, uma vez que j� tinha arribado a terra para desembarcar a passageira mal disposta.

Levei durante este tempo todo a pensar como � custosa a vida dos homens do mar. Como � dif�cil defrontar em solit�rio o Oceano infind�vel e insond�vel. O mar � lindo de dia e quando a noite � bela os reflexos da Lua nas pequenas ondas trazem-nos fulg�ncias prateadas dum mundo silencioso e envolto em brumas e mist�rio.

H� alguns anos que ele faz esta pesca, porque � mais rendosa e deita-se todos os dias nos len��is que o esperam e o aconchegam, dormindo assim a noite inteira. Pela manh� tem de acordar cedo para ir recolher as redes e proceder � �rdua tarefa de retirar o peixe das mesmas sem rebentar as malhas, evitando assim que se rompam.

Hoje a pesca nocturna que mais se faz nestas paragens � a apanha do chicharro, mas � uma pesca que normalmente requer a ocupa��o a tempo inteiro de dois pescadores e muitos deles t�m incompatibilidades entre si e tamb�m o tal sentimento de inveja a que aludi no come�o desta cr�nica.

O mar os moldou deste modo, mas em terra s�o am�veis e muito soci�veis. No caso do pescador que nos levou, como � amigo de longa data, foi duma simpatia impressionante para connosco. Respondeu a todas as perguntas que lhe coloquei e teve a defer�ncia de vir trazer a terra a minha enjoada companheira, ali�s como j� referi, voltando de seguida para a �marca� o que � muito raro na classe. Normalmente n�o se leva ningu�m que n�o tenha c�dula mar�tima, mas como n�o h� regra sem excep��o, l� de vez em quando, pode fugir-se ao estipulado na lei e neste caso concreto, foi o que sucedeu. N�o h� muitos anos ainda que era concedida autoriza��o para que as pessoas que o solicitassem, pudessem depois de assinada uma Declara��o na Delega��o Mar�tima e debaixo da sua pr�pria responsabilidade, ir �turisticamente� ao mar. Essa facilidade foi recusada h� algum tempo e agora � arriscado prevaricar. Mas afinal quem � o tal marinheiro? Trata-se do MANUEL FERNANDES, casado com a F�tima e pai da Eunice e do Miguel.

Desde a idade de treze anos que vai ao mar, tendo contribu�do para que tal sucedesse, al�m da sua grande paix�o pelo Oceano, o seu vizinho Ferreirinha, que �assinou� a declara��o, responsabilizando-se por ele para que lhe fosse concedida a C�dula Mar�tima.

Aos 14 anos embarcou na Traineira S�o Diego, para a pesca da albacora, onde esteve at� aos vinte anos e neste espa�o de tempo foi marinheiro e ajudante de maquinista, respectivamente no �S�o Judas Tadeu� e no �Formiga�. Entretanto vai para o servi�o militar e ali tira a especialidade de Pol�cia do Ex�rcito. Depois come�ou a arriar � baleia, e foi marinheiro nos botes �Ester�, �Diana� e o �Maria Armanda�, at� acabar a faina j� nos anos oitenta do s�culo passado. O �nico tio do lado do pai, que arriou � baleia e que se encontra a residir nesse pa�s � o Marcelino Gon�alves.

Neto de Mestre Jos� Peixoto, homeopata, pr�tico de veterin�ria e canteiro de nomeada, foi ele o orientador das obras de conclus�o da Matriz das Lajes do Pico, herdando dele a arg�cia e a habilidade.

J� exerceu diversas profiss�es e entre elas destacamos: maquinista de motores a gas�leo, trolha, carpinteiro, electricista, pintor, fogueiro e durante muitos anos foi com o sogro Manuel de Brum Pereira o cozinheiro escolhido para os diversos �gastos� das coroas do Esp�rito Santo que se faziam.

De olhar perspicaz, � muito raro notarmos um esgar de sorriso no seu rosto. � firme e muito corajoso, principalmente quando enfrenta a imensid�o do Oceano. Para ele o mar est� sempre bom, da� o ep�teto de �Bonan�a�, que engloba duas das suas grandes virtudes: a grande f� que tem pelo mar e a caridade que tem para enfrentar certas atitudes que se fossem outros confrontados com elas, descambariam para o torto.

O nosso homem, que aqui acab�mos de referir � figura conhecida em toda a Ilha, pelo seu trato af�vel e respeitador.

S�o assim os nossos homens que enfrentam as agruras da vida e do mar, que � a fonte da vida da nossa exist�ncia terrena.

Ao escrever sobre o Manuel, homenageio todos os pescadores inc�gnitos que nas Lajes, na Ilha do Pico, nos A�ores, em Portugal e no Mundo, contribuem com o seu esfor�o e coragem para sustentar com suor e l�grimas de sangue muitos lares terrenos.

Um Bem Haja, para todos os que andam por cima das �guas salgadas neste Planeta.

At� para a semana se...Deus quiser!




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Toronto,
7/Julho/2003
Edi��o 788

ANO XXIII

    Por: Paulo Lu�s �vila

 


 

 

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