TERTÚLIA TAUROMÁQUICA PICOENSE
Em amena conversa com um dos subscritores da Comissão Instaladora da
Tertúlia Tauromáquica Picoense, o tema convergiu para toiros e touradas.
Todos sabem que a tradição dos toiros e das touradas tem neste arquipélago
o seu expoente máximo na Ilha Terceira. Inclusivamente conta-nos a história
feitos e vitórias que foram ganhas aos espanhóis no tempo do domínio dos
Filipes utilizando contra os invasores gado bravo que uma célebre Brianda
Pereira, foi buscar ao mato e assim os afugentou para o mar alto. Foi na
célebre batalha da Salga.
A partir de então o gado bravo teve lugar em tudo o que era festa e hoje
não foge à regra. Festa na Ilha Terceira que não inclui no programa uma
tourada, não é festa.
Aqui na nossa Ilha, há cerca de trinta anos há touradas. Os primeiros
touros vieram da Ilha em frente - São Jorge - e se não me atraiçoa a
memória foram corridos no lugar da Manhenha da freguesia da Piedade.
Há vinte anos por altura das comemorações do Centenário da Festa em honra
da Senhora aparecida em Lourdes, os touros que vieram de São Jorge foram
capeados no recinto do campo de futebol que existia nas Lajes do Pico e que
desapareceu há um ano.
O pioneiro dos criadores de gado bravo nesta Ilha, Guilherme Henrique
Sousa, trouxe para a Piedade toiros e deu algumas touradas, principalmente
no Calhau e na Manhenha. Posteriormente foram vendidos e acabaram por
desaparecer dum momento para o outro por incúria e abandono dos novos
proprietários.
Há cinco anos, um jovem agricultor e criador de gado da freguesia da
Prainha do Norte - Fernando Bettencourt - meteu ombros a mais uma empresa e
apostou forte na criação de Toiros bravos. Hoje o Fernando é muito
solicitado para festas nesta Ilha e já possui vinte e três vacas de
barriga, o mesmo quer dizer vacas aptas a procriarem toiros para serem
corridos.
O material que possui neste momento tem alguma qualidade, pois foi
adquirido na Ilha Terceira a ganadeiros prestigiados e um toiro de cobrição
na ganadaria de Brito Paes no Continente. Mas a vida não tem sido fácil
para o ganadero picoense. Muitos alqueires de terra têm sido comprados e
arroteados para no seu interior e em espaço delimitado pastar calmamente o
gado bravo para apuramento da raça e, apesar de toda a sua força de vontade
há sempre factores externos que lhe complicam a vida, como foi o caso dum
caçador de São Miguel, que em visita ao Pico, entendeu ir à caça e ao
entrar numa cerca onde estavam os toiros, houve um que se lançou na sua
direcção e a única saída foi usar a arma que possuía para sua defesa
disparando um balázio que lhe acertou em cheio entre os chifres, acabando o
animal por perecer. Este rude golpe veio atrasar sobremaneira a progressão
da produção dos toiros, porque animais como estes são insubstituíveis, para
mais com as exigências veterinárias impostas pela Entidade veterinária
desta Ilha. Por ser uma das poucas Ilhas onde foi irradicada a brucelose,
está proibida a importação de qualquer cabeça de gado. Apesar dos animais
bravos - toiros -serem criados em recintos isolados e o contágio de
possíveis doenças, ser mínimo, não pode haver a importação de gado bravo
para apuramento de sangues e desta feita a substituição necessária e
urgente do malogrado animal, ainda não foi concretizada.
Em conversa que mantive com o ganadero Fernando Bettencourt, um jovem de
compleição atlética, mas simpático, de 37 anos de idade, fui informado de
que este ano já foram efectuadas 8 corridas à corda e que no ano passado
houve 22, prevendo que o número seja nesta época e em relação ao ano
anterior ultrapassado.
Já foi aceite a sua inscrição na Associação de Ganadeiros dos Açores, com
sede na Ilha Terceira, mas aguarda pela sua inscrição formal, dependendo
tal atraso da clausula da exigência das vinte e cinco vacas, aptas a
procriar e neste momento apenas lhe faltam duas. No entanto este fim de
semana foi um dos concorrentes ao grande certame de corridas à corda que se
realizou na Vila da Calheta na Ilha de São Jorge. Por motivos de paginação
deste semanário não nos é possível avançar com a classificação.
Para além disso, já está em adiantada fase de construção no sítio do
Redondo, perto da Zona da Lagoa do Caiado e numa variante à esquerda na
estrada que vem do lado da Estrada Transversal, um Tentadero, com o
patrocínio da Secretaria Regional da Agricultura e Pescas, através da
Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário e da Direcção Regional dos
Recursos Florestais e respectivos serviços de Ilha. E para aqueles que não
sabem o que é um tentadero explico sucintamente, que é um espaço circular,
parecido com uma praça de touros, mas de menor dimensão, onde se executam
algumas garraiadas e ferras de gado e se testam os toiros jovens para as
actividades afins. Tem uma casa de apoio em construção e prevê-se a sua
inauguração para meados do mês de Setembro, do corrente ano, se tudo correr
normalmente.
Concomitantemente foi recentemente criada a comissão instaladora da
TERTÚLIA TAUROMÁQUICA PICOENSE, formada pelos Srs. José Neto, Fernando
Bettencourt e Rui Pedro Ávila.
A partir daqui o Pico será mais uma Ilha onde as touradas à corda terão
outros motivos que não apenas e só, o de ver correr um toiro amarrado a uma
corda presa ao pescoço e segurada firmemente pelos pastores, numa qualquer
rua duma freguesia Picoense.
É mais uma atracção turística que apesar de ser condenada pelos ditos
defensores dos animais, não tem paralelo em mais nenhuma região do globo.
Por sermos diferentes queremos que nos aceitem tal qual somos, porque
muitas vezes nos impõe certas formas de vida que não concordamos, mas
também somos forçados a aceitá-las...!
Até para a semana, se ...Deus quiser!