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O NOSSO MAIOR INIMIGO

Esta � a melhor altura para abordar a quest�o da presen�a de luso-canadianos, na pol�tica do pa�s em que vivemos.
Quando se fala no assunto antes das elei��es, poder-se-� julgar que se est� a favorecer um ou outro candidato. Por outro lado, se deixarmos passar o tempo, dentro de alguns meses os processos eleitorais que decorreram h� poucas semanas, estar�o esquecidos. Esta, � a ocasi�o ideal para debater o assunto.
Hoje iremos abordar as �ltimas eli��es municipais em Toronto, �rea do pa�s onde existem mais portugueses e que poder� servir de paradigma, para qualquer debate sobre o assunto, na nossa comunidade.

MERECE A PENA?

Partirei do princ�pio que merece a pena para os cidad�os de uma na��o civilizada e democr�tica, participar na vida pol�tica, at� porque o voto � uma das formas mais efectivas de defender os nossos direitos. Afinal, milh�es de pessoas por esse mundo fora t�m sofrido para ter o direito de votarem e ser votadas.
N�o faz sentido, protestar ou lamentar-se, como muitas vezes acontece, mas chegar � altura das elei��es e n�o votar.
Afinal ao n�o votar, estamos na realidade, a apoiar a situa��o como ela est�. A absten��o do voto, � uma forma de votar por aqueles que est�o no poder. N�o merece a pena protestar contra o Inverno rigoroso do Ont�rio, porque ele n�o muda, no entanto foi poss�vel com as �ltimas elei��es mandar embora o Sr. Mike Harris e o seu sucessor Ernie Eves.

VOTAR NOS "PORTUGUESES"

Nunca � demais afirmar que ningu�m na nossa comunidade, poder� votar por um "portugu�s", mas sim por um luso-canadiano, isto � um cidad�o do Canad� que � de origem portuguesa.
Tamb�m nunca � demais destruir o mito, que vamos eleger uma pessoa para nos "representar". Em primeiro lugar, um pol�tico � eleito para representar todas as pessoas do seu c�rculo eleitoral ou bairro. Se os media descobrissem, que um pol�tico favorecia apenas os membros do seu grupo �tnico, seria perseguido de tal maneira que na pr�xima elei��o n�o poderia nem ser eleito para "dog catcher" (apanhar c�es vadios), como se diz no Canad�.
Por outro, esse pol�tico que defendia apenas os seus compatriotas, seria no caso dos governos federal ou provincial sujeito a san��es ou at� expulso do grupo parlamentar e no caso das assembleias municipais, votado ao ostracismo pelos seus colegas.
Diga-se de passagem, que um pol�tico, especialmente ao n�vel municipal n�o precisa de pertencer ao grupo �tnico daqueles que ele representa, como � o caso do vereador Pantaloni que tantos portugueses conhecem, para ser um defensor daqueles que representa. No entanto, a elei��o de luso-canadianos, � essencial para a nossa comunidade. Ela dar� aos luso-canadianos o prest�gio e a projec��o que necessitam, para serem realmente aceites neste pa�s. Precisamos de muitos trabalhadores honestos, e isso � uma honra para todos n�s, mas tamb�m � necess�rio que os restantes habitantes deste pa�s saibam que h� luso-canadianos, cientistas, dirigentes sindicais, m�dicos, advogados, ju�zes, pol�ticos e desempenhando outras fun��es de destaque.
Tamb�m os nossos jovens necessitam, como incentivo paraprogredirem na vida, terem o conhecimento de que existem portugueses nas posi��es mais importantes e prestigiosas desta sociedade. A elei��o dum pol�tico, a formatura dum m�dico, advogado ou engenheiro, a nomea��o dum ju�z s�o mais importantes para o prest�gio dos portugueses, que centenas ou milhares de marchas, paradas, l�pides, monumentos ou outras formas que muitas vezes usamos para assinalar a nossa presen�a nesta sociedade. A prop�sito, tamb�m a exist�ncia de portugueses em posi��es de destaque, na sociedade canadiana � importante para o nosso prest�gio em Portugal, aonde muita gente tem pouca considera��o por aqueles a quem chamam de forma depreciativa "os imigrantes".

VOTAR EM LUSO CANADIANOS

Mais uma vez devemos salientar, que � errado e at� prejudicial para o prest�gio da nossa comunidade votar num candidato apenas porque � portugu�s.
Numa sociedade democr�tica, devemos votar em quem, na nossa opini�o, � o melhor candidato. Tive conhecimento que houve quem criticasse um conhecido elemento da nossa comunidade, porque n�o tinha apoiado publicamente um certo candidato luso-canadiano. � minha opini�o, que ele est� absolutamente no seu direito de votar ou apoiar quem quiser. A minha cr�tica n�o � contra ele, mas contra outro tipo de eleitores, a quem me irei referir mais adiante.
O voto � uma coisa muito importante para ser dado automaticamente a algu�m, apenas porque � portugu�s.
Um luso-canadiano poder� n�o receber o nosso voto, se � incompetente, uma vergonha para a comunidade ou se ao votar por ele vamos prejudicar a sociedade em que vivemos.
Se eu vivesse no c�rculo eleitoral de Mississauga Leste, napen�ltima elei��o provincial em que havia possibilidade de nos termos visto livres do governo do Sr. Mike Harris, que na minha opini�o era nefasto para esta prov�ncia eu n�o teria votado por Carlos Faria, uma pessoa por quem tenho a maior considera��o, porque ele ao ser eleito iria ajudar formar um governo conservador. Felizmente, n�o morava nessa �rea da cidade e n�o tive que tomar a decis�o dif�cil de votar contra o conhecido advogado luso-canadiano que afinal nessa altura foi eleito, assim como o governo conservador do Sr. Mike Harris.

O CANDIDATO IDEAL

Ana Bail�o, mulher, luso-canadiana, jovem, progressista, educada, boa oradora, inteligente e com anos de experi�ncia na Camara Municipal, aonde trabalhou com o vereador M�rio Silva, era sem d�vida o candidato ideal para um portugu�s apoiar.
Como � sabido nos �ltimos 12 anos temos tido um luso-canadiano como vereador na Camara Municipal de Toronto. Come��mos com Martinho Silva e mais tarde, com a elei��o de M�rio Silva chegamos a ter dois elementos na Ass�mbleia Municipal. A derrota eleitoral de Martinho Silva e h� poucos meses a decis�o de M�rio Silva de abandonar a pol�tica municipal para concorrer ao Parlamento do Canad�, �a deixar-nos sem uma pessoa de origem portuguesa na Camara Municipal. Por essa raz�o a nossa comunidade s� tinha a ganhar, com a vit�ria eleitoral de Ana Bail�o. Devemos afirmar que o lugar de vereador na maior e mais rica cidade do Canad�, � uma posi��o que d� � comunidade portuguesa um grande prest�gio neste pa�s. Tamb�m todos n�s, os portugueses de Toronto t�nhamos grande orgulho, sempre que alguma autoridade portuguesa nos visitava, especialmente pol�ticos, nomeadamente autarcas, de lhes apresentar os nossos vereadores.
Infelizmente Ana Bail�o foi vencida por um jovem de 26 anos Adam Giambrone, que obteve 51% dos votos e com uma diferen�a de 1.200 votos, segundo o Toronto Star. Devo acrescentar, que este Sr. Giambrone n�o era como muita gente julgava um advers�rio f�cil, e um jovem qualquer com aspira��es a pol�tico.
Nascido no bairro, este jovem arque�logo que fala ingl�s, fran��s e �rabe � considerado uma das novas estrelas do NDP, na opini�o de muitos, um futuro Bob Rae ou David Miller. Apesar da sua idade, ele � o presidente nacional do NDP e � muito conhecido pelas suas explora��es arqueol�gicas no Yemen, Tunisia e Sud�o. O facto que ele tinha a ajud�-lo a m�quina pol�tica do NDP, not�vel por conseguir mobilizar todos os seus membros e simpatizantes no dia das elei��es, foi concerteza um facto importante na sua vit�ria.
Tamb�m � preciso n�o esquecer, que Giambrone, que tinha sido derrotado na �ltima elei��o por M�rio Silva, nunca tinha deixado de fazer campanha eleitoral no bairro 18.
Tamb�m prejudicou Ana Bail�o, o facto de ela ter sido identificada com o candidato a presidente da Camara Municipal Barbara Hall, num bairro em que o vencedor, David Miller obteve uma das percentagens mais elevadas de votos, 54%.
Por�m, se Adam Giambrone, foi um advers�rio muito mais forte do que se esperava, e quem sabe, talvez tenha havido um excesso de confian�a pelo menos no eleitorado luso-canadiano, a causa mais importante para a derrota de Ana bail�o, foi na minha opini�o o nosso "grande inimigo".

O NOSSO INIMIGO

Um amigo meu, pessoa ocupada, que vive em Oakville, esteve a ajudar na campanha de Ana Bail�o, fazendo uma coisa que por sinal eu detesto - "canvasing", que consiste em bater �s portas dos votantes. No dia da elei��o, cerca de uma hora antes de encerrarem as urnas, depois de um dia de trabalho �rduo, a calcurrear as ruas do bairro 18, o meu amigo bateu � porta duma fam�lia, com um nome bem portugu�s. Apareceu-lhe um compatriota nosso, que pelos vistos tinha acabado de jantar a quem o meu amigo sugeriu que fosse votar pela Ana, uma vez que ele tinha j� acabado a sua refei��o e a esta��o de voto era a uma dezena de metros da sua porta. O nosso compatriota, ao que parece de forma pouco gentil, disse-lhe que n�o iria votar, porque os pol�ticos eram todos uns malandros, ladr�es, etc, etc.
Infelizmente, este homenzinho n�o foi o �nico a faltar ao dever c�vico de votar. Apesar de existirem mais de 9.000 nomes portugueses nas listas eleitorais do bairro 18, o n�mero de absten��es foi elevad�ssimo.
Eu nunca criticaria um portugu�s, que por raz�es, que s� a ele lhe dizem respeito, fosse votar por qualquer candidato fosse de origem inglesa, chinesa, italiana ou "verdadeiro canadiano", isto � �ndio ou inuit.
O que me deixa triste � que milhares de portugueses, que n�o escolheram qualquer candidato, desperdi�aram o seu voto, em vez de o darem a um candidato luso-canadiano, que ainda por cima � uma pessoa com todas as qualidades para desempenhar as fun��es de vereador, a qual teria contribu�do para o prest�gio da nossa comunidade neste pa�s.
Acredito, que apenas uma pequena minoria se tenha recusado a votar pelas raz�es apresentadas, ao meu amigo que andava a bater �s portas, para suportarem a Ana Bail�o, uma vez que um grau de ignor�ncia e estupidez deste g�nero � hoje, felizmente, raro na nossa comunidade. Tamb�m existem algumas pessoas, calculo que sejam muito poucas, que nunca iriam votar por um portugu�s, por aquela raz�o que o nosso povo, designa por "n�o podem ver uma camisa lavada no parceiro"ou "dor de cotovelo".
Por�m sejam qual for as raz�es que levaram � absten��o da maioria dos portugueses - in�rcia, falta de interesse, desconhecimento, aliena��o - � triste que tenhamos perdido uma oportunidade como esta para ter uma luso-canadiana na Assembleia Municipal da maior cidade do Canad�.
A nossa falta de envolvimento pol�tico, e j� n�o falo nos milhares que n�o podem votar por n�o serem cidad�os canadianos, � afinal o nosso maior inimigo. Quem venceu a Ana Bail�o, n�o foi o jovem e brilhante Adam Giambrone, mas a falta de colabora��o dos eleitores luso-canadianos.
N�s, fomos os nossos maiores inimigos!



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Toronto,
1/Dezembro/2003
Edi��o 807

ANO XXIII

 

   
     Escreveu
    Dr. M. Tom�s Ferreira

   

   


 

 

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