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OLARIAS - Perspectivas
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O ilustre vilafranquense Dr. Armando Cortes Rodrigues (1891-1971) deu o t�tulo VOZ DO LONGE a uma s�rie de cr�nicas, que escreveu entre 1961 e 1966, p'r� transmiss�o directa aos microfones do Emissor Regional dos A�ores e subsequente publica��o nas colunas do "Di�rio dos A�ores". Estas cr�nicas foram devidamente recolhidas pelo Instituto Cultural de Ponta Delgada, e agrupadas numa edi��o que saiu a p�blico em dois volumes (1973 e 1974).

Discorrendo acerca das olarias que durante s�culos mantiveram a sua actividade em Vila Franca do Campo, "como uma das mais carater�sticas do labor a�oriano", Corte Rodrigues legou-nos o seguinte testemunho:

"No evoluir da vida moderna, as olarias est�o destinadas a desaparecer. De tantas que havia, dizem-se que hoje s� h� apenas oito. A emigra��o e a luta desigual da concorr�ncia destr�i aquela heran�a de labuta de pais p'ra filhos, que era como o cumprimento de um destino de fam�lia". (Voz do Longe, Vol. II, P�g. 433).

No preciso e ilustrado suplemento de oito p�ginas, publicado pelo quinzen�rio micaelense TERRA NOSTRA (18/Setembro/03), da autoria de Natacha Pastor e inteiramente dedicado �s Artes, Of�cios & Tradi��es Populares de Vila Franca do Campo, somos informados que, de facto, a olaria constitui uma tradi��o local muito antiga e ainda hoje � poss�vel encontrar algumas reminisc�ncias deste of�cio.

No entanto, prossegue Natacha Pastor, "o mesmo n�o se pode dizer da pr�tica desta actividade, que sucumbiu aos novos tempos e � idade (...) ser-se oleiro � hoje uma profiss�o em vias de extin��o (...) daqui a pouco mais de vinte anos o que ainda hoje resta deste of�cio ser� apenas poss�vel encontrar em testemunhos numas quantas p�ginas de jornais".

� evidente concluir, pois, que v�rios factores contribu�ram p'r� decl�nio das olarias vilafraquen-ses. Disto nos assegura Rui de Sousa Martins nos seguintes termos:

"A cer�mica vidrada da Vila da Lagoa foi-se impondo no mercado e conquistando os favores da popula��o, pois embora fosse mais cara, era mais bonita e de melhor qualidade. Os recipientes em ferro, folha-de-flandres, alum�nio e pl�stico invadiram o com�rcio, proporcionando uma vida mais f�cil �s popula��es.

Al�m disso, os oleiros que no s�culo 19 e principios do s�culo 20 emigravam p'r� Brasil, tinham por costume regressar ao fim de alguns anos ao trabalho na roda, mas os oleiros que emigraram p'r�s Estados Unidos e p'r� Canad� depois dos anos 40, voltam apenas a t�tulo de visita. A sociedade e a cultura mudaram e a lou�a da Vila sobrevive entre a mem�ria dum passado, reproduzida nalgumas pe�as tradicionais, e na inven��o doutras, �vidamente consumidas pelos peregrinos da paisagem, do t�pico e do lazer". (Revista Arquip�lago, Universidade dos A�ores, Ci�ncias Sociais, N�mero 2, P�gina 181, Ano 1987).

Na mesma revista (p�ginas 254-255), num segundo artigo assinado pelo mesmo autor, ficamos a saber que em 1930 existiam 20 olarias em Vila Franca, mas a partir dos anos 40 o n�mero foi decrescendo, com apenas 16 oleiros a trabalhar em 1959. Dez anos depois contavam-se t�o s�mente 8 oleiros. Em 1980 havia 5 oficinas em manifesta decad�ncia, e actualmente Vila Franca tem 4 oleiros.

Foi deveras merit�rio o trabalho dos oleiros, e a sua mem�ria n�o pode nem deve ser descurada. Como acertadamente acentuou Rui de Sousa Martins, "a lou�a da Vila foi indispens�vel na casa rural e participou �ntimamente do dia a dia do povo a�oriano, fornecendo-lhes recipientes p'ra transportar, cozinhar e conservar os seus alimentos e bebidas, e tamb�m p'r� higiene do corpo e da roupa. "Conv�m igualmente real�ar que os oleiros fizeram "materiais de constru��o, objectos ligados � cria��o de animais dom�sticos, � destui��o de animais nocivos, � decora��o das casas e ainda brinquedos p'ra crian�as".

Assim, p'r� transporte, dep�sito, consumo e aquecimento da �gua, temos a talha e o talh�o, a jarra e a p�cara, a moringa e o amorim, n�o esquecendo o caldeir�o. P'r� leite, vinho, aguardente e ch�, t�nhamos os potes, as infusas, os barris e os bules.

Na prepara��o do p�o, usava-se o alguidar, a ca�arola e a tigela. P'r�s servi�os de cozinha, l� estavam as sert�s, os assadores, os fogareiros, as panelas, os pratos e as tampas. P'ra conservar o peixe, porco e pimentas, t�nhamos as balsas e os boi�es. P'ra lavar, quer a roupa quer a lou�a, havia os alguidares. P'r� higiene do corpo, fazia-se uso das saboneiras, do lava-m�os e dos tenores (penicos).

Aromatizavam-se as casas com os queimadores d'incenso, e arrumava-se o dinheiro nos mealheiros. Plantas e flores eram dispostas em jarras e vasos. Empregavam-se tijolos e telhas em v�rias constru��es. Havia armadilhas de estufa p'ra insectos, armadilhas p'ra formigas e umas tigelas p'ra matar morganhos. P'r� cria��o de animais, havia a balsa de lavagem do porco, bebedouros de galinhas e pintos, coelheiras, agulheiro de pombas e alimentador d'abelhas.

Ao recordar tempos passados, lembro-me que a venda da lou�a da Vila era nota caracter�stica das festividades anuais do Senhor Santo Cristo dos Milagres em Ponta Delgada, e do Senhor da Pedra em Vila Franca. Dias festivos como estes, nessas e noutras localidades da ilha, ofereciam geralmente uma oportunidade p'r� compra de objectos de uso caseiro, bem como p'ra adquirir "souvenirs" do arraial e diversos "brinquedos" p'r�s crian�as.

Num aceno de saudade podemos at� acrescentar, sem favor nem exag�ro, que a arte dos nossos oleiros constitu�u parte integrante das festas populares e contribu�u em larga escala p'r� alegria do nosso povo!

S�o de Virgilio de Oliveira (1901/1967) as quadras que se seguem...

Eu fui ao senhor da Pedra
No meu burro sem retranca,
Fiquei de todo perdido,
Quando avistei Vila Franca.

Quando vou a Vila Franca,
Que estranho sentir me invade!
� minha Vila-Pres�pio,
Terra da minha saudade.

A Vila que me traz preso,
Tem uma hist�ria t�o bela,
Por sobre o mar o Ilh�u
A rondar de sentinela.

Vila Nova dos oleiros,
Minha rua pito resca,
Comprei um talh�o de barro,
Tenho sempre a �gua fresca.

� minha Vila, � tardinha,
Ao tocar p'r� Novena...
Deixei de te ver um dia,
Minh'alma morreu de pena.

Eu hei-de trazer-te ao colo
Como se fosses menina...
� Vila Franca, Fidalga,
Baixela de prata fina!



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Toronto,
1/Dezembro/2003
Edi��o 807

ANO XXIII

 
      Por
Ferreira Moreno

   


 

 

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