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DAS PENEIRAS �S
VASSOURAS COM FEITICEIRAS

 

Em cr�nica anterior, (Lembran�as de Peneiras), falei acerca duma ind�stria caseira que, antigamente, quando eu era ainda menino e mo�o, encontrava-se pr�ticamente circunscrita � "minha sempre alembrada" e briosamente "micaelense" Ribeira Grande, enclausurada no arquip�lago a�oriano...

Hoje vou ocupar-me (ligeiramente, como sempre) �cerca das vassouras. Antes, por�m, quero recordar a "mem�ria" de Manuel In�cio de Melo (1898-1986), que conheci em vida e por quem nu-tri sincera admira��o, atrav�s dos seus escritos na imprensa local, assinados com o pseud�nimo "Aljava" e com a sigla "MIM", e cujas produ��es liter�rias sobre usos e costumes tradicionais eram sempre bem recebidas, revestindo-se de muito interesse as suas populares gazetilhas.

Interrogando-se, um dia, "Quem compra hoje trempes e peneiras? Quem compra hoje uma carga de achas p'r� lume e p'r� velha lareira?", Manuel In�cio de Melo legou-nos a "lembran�a" seguinte:
"Isso j� passou e ainda bem que assim �. N�o h� muito que aquele preg�o, hoje incompleto, ressoava na cidade, nas vilas e nas aldeias: - Ei trempes, fuzos e peneiras!

Hoje j� n�o temos os fusos e, dentro em pouco nem trempes, nem peneiras... pe�a de Museu, apenas, visto que foram, com muito bom �xito, substitu�dos e n�o compensa vir da Ribeira Grande, t�o carregado, dar voltas por aldeias, vilas e cidades, e regressar a casa quase com a mesma quantidade com que sa�u.

Foi neg�cio que muito honrou a Ribeira Grande, que sempre reivindicou a prioridade em tais artigos, assim como Vila Franca do Campo est� a ver desaparecer, e p'ra sempre, esta arte t�o popular da olaria".

E Manuel In�cio de Melo, nost�lgicamente, deixou-nos dito:
"Apesar de todas as modernas altera��es em maquinismos e em tudo o mais, recordo com saudade aqueles santos tempos em que as trempes e as peneiras, numa cozinha, eram objectos de primeira necessidade, e sem eles nem bom p�o, nem bom bolo e nem bom lume!"

No que diz respeito �s vassouras nos A�ores, julgo que a sua exist�ncia remonta ao respectivo povoamento das mesmas ilhas. No que se refere aos materiais usados, e em perfeita "sintonia" com o saudoso "mestre" dr. Carreiro da Costa (1913-1981), teriam os ramos (devidamente aparelhados e enfeixados) da urze, do loureiro e da faia, a "mat�ria-prima" das primeiras vassouras a�orianas.

Com o decorrer dos tempos, fez-se uso da giesta brava... e, no meu tempo de menino e mo�o, usava-se o chamado "milho-vassoura", cujos espigos, depois de passados pelo ripan�o e desgranados das respectivas sementes, constitu�am a chamada rama de vassoura. T�nhamos, ent�o, a "vassoura de m�o", feitas apenas com os espigos e respectivos caules, e ainda a "vassoura de cabo", feita tamb�m com os espigos entretecidos em for-ma de leque, mas presos a uma vara de madeira, ou seja, o cabo.

Desnecess�rio acrescentar - em prol do folclore caseiro! - que as vassouras serviam, igualmente, p'ra bater nas nossas "traseiras" todas as vezes que as nossas "santas" m�es decidiam castigar-nos, quando a gente n�o se "portava bem"...

�s vassouras est�o ligadas v�rias supersti��es, como atestou o dr. Lu�s da Silva Ribeiro (1882-1955) na p�gina 521 do primeiro volume (OB-RAS), publicado em 1982 pelo Instituto Hist�rico da Ilha Terceira. Da� colhemos a informa��o de que o melhor "rem�dio" p'r� gente se "livrar" de pessoas, que nos aborrecem com visitas longas e importunas, est� em colocar uma vassoura atr�s da porta da casa. O "segredo" p'ra afastar tais "visitas" est� em p�r a vassoura com a rama p'ra cima, - tomem nota, por favor!

Igualmente, tomem nota que n�o � aconselh�-vel varrer a casa � noite ou atirar o lixo p'r� rua; no primeiro caso, � arriscar-se a morrer inchado; e, no segundo caso, seria lan�ar p'ra fora a sorte ou fortuna.

E varrer os p�s a quem � solteiro, � o mesmo que conden�-lo a ficar solteiro por anos sem conta!
Por seu turno, Carreiro da Costa (Fevereiro 1961) oferece-nos ainda mais estas curiosidades:

"Uma vassoura nova deve ser estreada por uma pessoa de idade e nunca por uma jovem, e deve come�ar a servir, sempre, pelo interior da casa e nunca pelo exterior e pela entrada. Guarda-se a vassoura colocando-a ao alto, num canto da casa, e nunca deitada porque, de contr�rio, o dono dessa casa vai sofrer atrasos na vida. E uma vassoura, j� servida, n�o deve ser emprestada, visto que trar� fortuna a quem se lhe empresta".

No entanto, "sempre que algu�m mudar de casa, nova moradia dever� ser varrida com uma vassoura usada, a fim de que a vida continue a decorrer bem... embora haja quem, em tais circunst�ncias, prefira usar uma vassoura nova, p'ra que a vida continue com outro rumo, ou seja, p'ra me-lhor, evidentemente!"

E, valha-nos Deus!, sempre que uma vassoura perca a sua utilidade, por favor n�o fa�am a asneira de a queimar ou desprezar, pois que ela pode vir a tornar-se em instrumento de malef�cios. H� at� quem diga que, por ser objecto �ntimo da vida familiar, a vassoura vale p'ra efeitos de artes de feiti�aria, como uma pe�a de roupa duma pessoa!

A� est� "c'mas coisas �"... A vassoura � duma preciosidade fant�stica, que tanto pode servir de amuleto de defesa contra "visitas" indesej�veis, bem como de "arma" por parte das feiticeiras. E muita gente, ainda hoje, acredita que as feiticeiras usam vassouras como favorito meio de transporte a�reo, cobrindo grandes dist�ncias, sobre a terra e sobre o mar!



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Toronto,
15/Dezembro/2003
Edi��o 809

ANO XXIII

 
      Por
Ferreira Moreno

   


 

 

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