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ARANHAS E SUPERSTI��ES

 

Numa comunica��o acerca das "Supersti��es comuns ao Brasil e aos A�ores", o ilustre Dr. Lu�s da Silva Ribeiro (1882-1955) deixou esclarecido serem muitas, nas ilhas, as supersti��es com aranhas, quase sempre mais ou menos ligadas a dinheiro. Na Terceira, por exemplo, "quanto mais pequenas s�o melhor e, segundo alguns, p'r� dinheiro vir, devem matar-se com o dedo m�nimo". No Brasil, "n�o se deve espanar teias de aranha p'ra n�o espantar a felicidade".

O meu saudoso "Mestre" Carreiro da Costa (1913-81) elucidou-nos que as aranhas figuram com frequ�ncia no folclore a�oriano: "Quanto se conhece em mat�ria de folclore acerca de aranhas nos A�ores, � mais ou menos o mesmo que se re-gista no Continente e at� no Brasil, embora aqui (no Brasil) as aranhas, por serem em maior variedade, acusam abundantes informa��es".

J. H. Borges Martins, no segundo volume de "Cren�as Populares da Ilha Terceira", d�-nos conta que � sinal de dinheiro ver uma aranha mi�da, mas p'ra obter o dinheiro mais depressa, deve matar-se a aranha com esta invoca��o: "Aranha morta, dinheiro � minha porta". Acontece, por�m, uma vez por outra, aparecer � porta uma carta ou uma prenda em lugar de dinheiro. H� quem meta aranhas pequenas debaixo dum casti�al, retendo-as ali at� receber o dinheiro.

Em certas localidades, conforme a c�r duma aranha pequenina, diz-se que a loura � sinal de gosto e a preta � sinal de desgosto, enquanto as aranhas grandes s�o pren�ncio de mau tempo, mortes e zaragatas. Mas, a meu ver, o facto permanece que nos A�ores, sempre que se depara com uma aranha, o povo assume as mais diversas interpreta��es consoante a respectiva apar�ncia e ocasi�o. Mais ainda, independente da c�r ou do tamanho duma aranha, ela pode servir quer de press�gio de felicidade ou de desgra�a, quer de progn�stico de boas not�cias ou de falsos testemunhos.

Carreiro da Costa legou-nos a informa��o que S�o Bento, naturalmente porque foi eremita de grande austeridade e lidou com aranhas, "costuma ser invocado sempre que v� uma aranha; e ainda assim � necess�rio cuspir tr�s vezes, pois que se tal n�o se fizer, a aranha ir� ter � cama da pessoa, mais n�o seja p'ra lhe pregar um susto".

O Dr. J. Leite de Vasconcelos (Etnografia Por-tuguesa, Volume IX, Edi��o 1985), fala de uma tecedeira, sua vizinha, que n�o tirava as teias de aranha para que o diabo lhe n�o enredasse a teia. Na Covilh�, louva-se o trabalho da aranha: "� mais curiosa do que eu, trabalha mais desembara�ada, e tece mais ligeira que a tecedeira". Em Castelo Branco chamam tecedeiras �s aranhas, e diz-se que a tecedeira aprendeu com a aranha a fazer a mesma felpa.

No Minho, quando uma aranha pequenina e vermelha est� a subir pelo fato da gente, deixa-se continuar porque traz felicidade � pessoa. Mas se desce, mata-se porque d� azar. A aranha que se suspende num fio anuncia carta de namoro. Diz-se que a sementeira ser� boa, quando uma aranha se despega e anda pelo ar no fim do Ver�o. E quando uma aranha grande aparece solta, diz-se que � sinal de trabalhos nessa casa ou na das vizinhas.

Quando se v� uma pessoa a trabalhar devagar e com pouco cuidado, diz-se ser uma aranha, confirmando assim o prov�rbio: "Quem n�o tem arte nem manha, morre no ar como a aranha". N�o sei se devo atribuir a mera curiosidade ou supersti��o, mas lembro-me de ter ouvido em crian�a (nas ilhas) que as bruxas podem tomar a forma de aranhas. Mas s� recentemente � que tive a sorte de ver isto confirmado atrav�s de �ngela Furtado Brum, no seu precioso livro "A�ores, Lendas & Outras Hist�rias", com a narrativa lend�ria duma feiticeira que se transformava em aranha. Tal ocorreu na ilha Graciosa em princ�pios do s�culo vinte.

Novamente com a ajuda de Leite de Vasconcelos, tomei conhecimento de uma hist�ria muito engra�ada. Trata-se de um ferreiro que sofria de maleitas, e por isso bebia coisas azedas p'ra se livrar delas. Visto que as maleitas n�o gostam de coisas azedas, elas foram queixar-se a uma aranha, que vivia na casa dum homem rico, mas andava descontente porque as criadas (p'ra fazer a limpeza da casa) estavam sempre a desmanchar-lhe a teia.

Ficou ent�o determinado trocar resid�ncia; as maleitas passaram a viver contentes na casa do rico, uma vez que este tomava coisas boas, enquanto a aranha sentiu-se feliz na companhia do ferreiro, visto que ele nunca limpava as teias da forja.

E j� termino, recordando estas express�es populares: Pernas de aranha (pessoa muito magra); Andar �s aranhas (andar � toa); Ver-se em palpos de aranha (achar-se em apuros); Ter teias de aranha (ter ilus�es); e aquele ditado "Guardou-se da mosca, comeu-o a aranha".

Eu fui ao ar por uma aranha,
E desci por um aranhol;
Eu namorei um rapaz,
Que era lindo como um Sol.



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Toronto,
15/Mar�o/2004
Edi��o 821
ANO XXV

 
      Por
Ferreira Moreno

   


 

 

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