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O CANAL DO DESESPERO
E DA ANG�STIA

Quando tinha a idade de quatro anos, fui pela primeira vez ao Faial na companhia dos meus progenitores. A primeira vez que passei aquele naco de mar, foi para mim muito agrad�vel e divertida. Por sinal fiquei uma noite no Hotel Faial que era perten�a dum tio av� e o que mais apreciei, foi o barulho dos cascos dos cavalos puxando as carro�as porque passavam para tr�s e para diante bem perto da janela do quarto que nos tinham destinado, para pernoitarmos. Lembro-me tamb�m de ao passar por um manequim que estava � porta da Casa das Casimiras, ter andado uns poucos de metros a olhar para tr�s, esperando na minha ingenuidade que "aquela pessoa" desse pelo menos um passo em frente. Estive no "Correio da Horta", sentado nos joelhos do sr. Raul Xavier, mas estranhei que o Dr. Raposo nem tivesse ao menos passado a m�o pelos meus cabelos, como era h�bito fazer-se, para cumprimentar uma crian�a naqueles recuados tempos do s�culo passado. No entanto houve um objecto que levei sempre fechado na m�o e que era uma navalhinha em madeira, feita pelo "feitor velho" e que era o meu tesouro. Lembro-me que a madeira era de faia. Acompanhou-me ainda durante muitos anos, at� que um dia desapareceu misteriosamente e por sinal at� nem fiz grande reparo por isso. Naqueles anos do p�s-guerra mundial, pela Horta, passavam muitos navios e avi�es anf�bios e lembro-me de � tarde termos ido dar um passeio ao Largo do Infante e de ter levantado um dos tais avi�es anf�bios, que se ergueu na direc��o do c�u para os lados do Pico. Grande confus�o se estabeleceu na minha inocente cabecinha, porque n�o atinava o como nem o porqu� da eleva��o daquele "p�ssaro gigantesco", deixando sulcos e ondas que a velocidade das suas barquinhas ao passar pelas �guas tranquilas do canal produziam. Anos mais tarde novamente vim ao Fayal, desta feita para me sujeitar ao Exame de Admiss�o aos Liceus. Desta vez marcou-me a voz altissonante do Dr. Simas, quando nos leu as frases do ditado obrigat�rio e que ditava leis, pois quem tivesse mais do que quatro erros de ortografia, era automaticamente exclu�do e tinha de passar mais um ano a aprender ou ent�o desistia � partida, o que aconteceu com muitos, que ficaram traumatizados de tal maneira que nunca mais quiseram saber "dos livros". (Mais tarde informaram-me que por ser surdo, falava assim em alta voz). Havia algumas "rasteiras" e uma delas era a palavra "a��car", que muitos escreveram com dois "ss" e nem colocaram o acento t�nico. O Dr. Simas nunca mais o vi e nem mais o encontrei no Liceu, quando tr�s anos mais tarde para l� voltei, porque j� se encontrava na Aposenta��o. Quando entrei para o Liceu, para tirar o Curso Geral, era Reitor o saudoso Dr. Manuel Alexandre Madruga, que era o meu Encarregado de Educa��o e na altura considerado uma "aut�ntica fera". Tudo j� passou h� muito, as dores de barriga dos pontos escritos e das provas escritas, as incertezas das notas do final do terceiro trimestre, onde nos aguardava a passagem ou a reprova��o do Ano e as provas orais depois de vermos � dist�ncia que no quinto ano, tinha "reprovado", mas Gra�as a Deus, vendo melhor, verifiquei que afinal tinha sido o colega da linha anterior � minha.

As travessias eram muitas vezes perigosas e �s vezes temer�rias. Lembro-me duma vez que tinha de seguir para a Horta, logo pela manh�, porque naquele dia tinha um ponto de F�sico-Qu�mica e a professora Dra. Ermelinda Monteiro, n�o perdoava a falta �quele teste, fosse porque motivo fosse, a n�o ser por doen�a. O transporte das Lajes para a Madalena era efectuado na camioneta da carreira, cujo hor�rio era sa�da das Lajes �s cinco e meia da matina. Ao chegarmos � Madalena, volt�mos para tr�s, porque a lancha n�o fazia servi�o no Porto, talvez o do Calhau fosse op��o. Ao chegarmos ao Calhau o mar estava pelos mais altos e as jazidas, tinham pouco tempo de intervalo para que os passageiros pudessem embarcar. A outra alternativa era o Porto de S�o Mateus e para l� nos dirigimos, porque o Porto talvez estivesse bom, uma vez que o vento n�o era fronteiro. Mas quando l� cheg�mos, depar�mos com cada "vagalh�o" que metia medo ao mais valente. A press�o que eu e os outros colegas faziam no condutor, o Sr. Lu�s Caetano das Neves de saudosa mem�ria, foi tal, que ele a dada altura virou-se para o Sr. Jo�o Quaresma que estava sentado � frente num assento que havia ao seu lado e diz com o sobrolho muito carregado: "Sr. Quaresma, o Senhor � que manda, mas se a lancha n�o vem para a Prainha estes rapazes v�o me p�r doido e o Sr. tamb�m tem filhos a estudar e sabe como �, melhor do que eu!" Not�cia para o Faial para o Capit�o do Porto da Horta, para que a lancha "Calheta", uma das mais seguras na �poca, viesse para o Porto da Prainha, porque dava para fazer servi�o. Tal sucedeu e o Mestre Norberto desembarcou sete passageiros e embarcou dezanove estudantes onde me inclu�a. Esta opera��o levou cinco minutos apenas e zarp�mos rumo � Horta. A viagem demorou duas horas e fui o �nico que vim fora a apanhar com os respingos das ondas, porque se tivesse ido no por�o tinha passado muito mal. Mal toc�mos o Cais de Santa Cruz, cada um correu esbaforido para as suas casas, onde se hospedavam. A minha ficava na Rua da Arainha Velha, em frente ao Porto Pim e a minha senhoria, a D. Ut�lia, j� estava em cuidados e com a mesa posta � minha espera. Depois de me lavar e mudar de roupa, sentei-me � mesa onde me aguardavam j� o Guilherme, o Urbino, o Manuel dos Rosais, o Nat�lio, o Almerindo, o Osvaldo e o Sr. Antero que ia entrar de servi�o "para a doca".

Anos mais tarde, mais precisamente na passada semana, tive de deslocar-me � Horta para fazer an�lises, porque o analista em servi�o no hospital local tinha ido a Lisboa e os exames tinham a prescri��o de urgente. O mar estava pelos mais altos, mas desta feita, us�mos a viatura pr�pria e sa�mos de casa (das Lajes) �s sete e quarenta e cinco da manh�. O Mestre Victor, mo�o novo, mas j� com uma certa experi�ncia, conduziu-nos atrav�s das ondas que se levantavam na proa do "Cruzeiro das Ilhas", com muita per�cia e consci�ncia. Uma hora depois regress�mos, com o mesmo Mestre e a viagem foi muito melhor e n�o balan�ou tanto, porque viemos "mais arribados". Vim s� com ele na ponte do comando. A velocidade de cruzeiro foi de doze milhas mar�timas e a conversa foi muito interessante, porque aprendi mais umas regras acerca da travessia do canal. H� cinquenta anos viajava numa lancha feita de madeira...hoje viaja-se num navio feito de ferro e com melhores condi��es para quem precisa de "vir beijar a santa ao Faial"! Mas os doentes, � uma dor de alma. Transportados em maca ou em cadeirinha de rodas, quando chegam acima do Cais, ainda tem de esperar, dentro do "Cruzeiro", para que a ambul�ncia que levou os outros doentes, regresse para vir buscar o que ficou a aguardar. J� estamos no s�culo vinte e um e coisas destas ainda acontecem nestas terras da "coisa rara".


Igreja Matriz e Reparti��es P�blicas


Gaivota sobre o porto da Madalena


Mar bravo - Porto da Madalena do Pico


Ilheu deitado e desenho da toninha

At� para a semana, se...Deus quiser!




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Toronto,
22/Mar�o/2004
Edi��o 822
ANO XXV

    Por: Paulo Lu�s �vila

 


 

 

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