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N�O SOMOS OS �NICOS

Os leitores habituais desta coluna, estar�o lembrados, que com frequ�ncia me refiro � crise que atravessam as associa��es, clubes e outras colectividades na comunidade luso-canadiana, a qual se manifesta na dificuldade de recrutar dirigentes, na diminui��o na assist�ncia a certas actividades recreativas e culturais e no afastamento dos jovens.

Tamb�m estar�o recordados com o meu desapontamento com a forma como foi estruturado o encontro organizado pela Secretaria de Estado das Comunidades, uma actividade merecedora da nossa aten��o e louvor, mas em que os supostos peritos vindos de Portugal, nada contribuiram para o esclarecimento deste assunto, t�o importante para a preserva��o da cultura portuguesa no Canad�.

Hoje, iremos abordar um outro aspecto desta crise, o qual nos dever� ajudar a compreender o que se est� a passar na comunidade luso-canadiana.

Dizia o meu amigo e colega destas lidas comunit�rias e associativas, Walter Lopes, hoje parcialmente retirado, uma das pessoas que na minha opini�o tem ao longo dos anos feito uma das melhores an�lises da nossa comunidade, que o que se passa entre n�s � em certa medida semelhante ao que acontece na comunidade canadiana em geral, aqueles a quem a nossa gente chama os "canadianos", esquecendo que afinal canadianos somos todos n�s, os que vivemos, trabalhamos e pagamos impostos nesta terra. Na realidade, esta pequena "cidade portuguesa implantada", no Canad�, que � a comunidade luso-canadiana tem em certa medida os mesmos problemas e funciona de maneira semelhante, � do resto da popula��o deste pa�s. Acrescentarei, que � medida que os anos v�o passando, nos tornamos cada vez mais semelhan-tes ao resto da popula��o e que desde o gosto por essa brutalidade a que alguns teimam em chamar desporto, chamada h�quei sobre o gelo, at� viver encafuados nos "basements", em vez de disfrutar as casas que ganhamos com o suor do nosso rosto, passando por muitos h�bitos positivos tais como n�o deitar lixo para o ch�o, abrir as portas �s outras pessoas, guiar com mais cuidado, apanhar os coc�s que os nossos c�es fazem na rua, gastar dinheiro em "showers", fazer "barbeques" e ter relvados muito bonitos no Ver�o e tantas outras coisas, "canadianas" que s�o hoje parte da nossa vida. Ali�s, seria interessante fazer uma lista de coisas, que n�s luso-canadianos temos ou fazemos, que n�o existiriam se vivessemos em Portugal.

Um estudo recente, por um professor da Universidade de Carleton em Otava, chamado Paul Reed, mencionado num artigo do Globe and Mail por Roy MacGregor, chama a aten��o para um problema na comunidade canadiana em geral, semelhante ao que existe entre os luso-canadianos - o n�mero de volunt�rios, aqueles carolas, que trabalham gratuitamente para ajudar a sociedade, est� a diminuir.

Como � sabido, no Canad� abundam organiza��es de benefici�ncia pol�ticas, religiosas, recreativas e culturais que dependem do trabalho volunt�rio. Associa��es de veteranos das guerras do passado, as chamadas "Legions", est�o espalhadas por todo o pa�s assim como numerosos grupos culturais e desportivos. Organiza��es como a Diabetic Association (Associa��o das Diabetes), Cancer Society (Sociedade do Cancro), Heart and Stroke Foundation (Funda��o das doen�as do cora��o e circula��o), Canadian Blind Society (Sociedade dos Cegos) s�o apenas algumas das centenas ou milhares de organiza��es de benefici�ncia que existem neste pa�s, que dependem de volunt�rios. Segundo Paul Reed um em quatro canadianos participa em certa forma de trabalho volunt�rio, mesmo simples como ajudar uma equipa de futebol juvenil. Eu pr�prio perten�o a um clube de cicloturismo amador, com alguns milhares de membros, o Toronto Bicycle Network, ao qual me tenho referido muitas vezes, n�o contando claro com meia d�zia de organiza��es luso-canadianas.

Voltando por�m ao estudo do Dr. Paul Reed, direi que este soci�logo nos d� m�s not�cias no que se refere ao voluntarismo no pa�s em que vivemos. Num estudo com a coopera��o de Kevin Selbee da "Statistics Canada" (Instituto Nacional de Estat�stica do Canad�), Paul Reed descobriu que nos �ltimos dois anos e meio, houve uma queda de 7% no n�mero de volunt�rios. Segundo este estudo, o n�mero de volunt�rios est� neste momento a desaparecer � m�dia de 3% ao ano. � caso para dizer que se o leitor, notar que este ano existem 3% menos de pessoas a ajudar no seu clube, associa��o, par�quia, filarm�nica, grupo folcl�rico ou outra associa��o dependente de voluntarismo n�o se admire, porque como dizia o meu amigo Walter Lopes, que cito no princ�pio deste artigo, o que se passa entre os luso-canadianos � semelhante ao que acontece na sociedade em geral.

Paul Reed procura no seu trabalho analisar as causas dessa queda no voluntarismo, que mais uma vez mostram o que se est� a passar entre os "canadianos", � semelhante ao que acontece entre os "luso-canadianos".

Na opini�o deste autor, uma das causas � o cepticismo das pessoas, que deixaram de acreditar na utilidade das obras em que est�o envolvidos. Pes-soalmente, acho que mais que cepticismo, outro factor semelhante tem um papel importante - ego�smo. Na realidade vivemos numa sociedade em que cada vez mais as pessoas apenas se interessam por elas e se esquecem dos outros. N�o � por acaso que muitos desses programas na televis�o chamados "reality shows", s�o competi��es repugnantes, em que as pessoas procuram prejudicar-se umas �s outras, usando a lei da selva em que o mais forte ou com menos escr�pulos e moral, vence.

Outro factor mencionado por Paul Reed � que muita gente pensa, porque paga impostos, que na opini�o deles s�o elevados, n�o precisam de ajudar a sociedade. Uma vez que pagam acham que n�o precisam de colaborar, uma atitude semelhante �queles luso-canadianos que frequentam actividades na nossa comunidade e que porque pagam um bilhete, recusam-se a ajudar e muitas vezes se comportam de forma autorit�ria e at� malcreada, esquecendo-se que sem a ajuda de volunt�rios, o espect�culo ou outra actividade que est�o a disfrutar, seria ou muito mais cara ou at� n�o existiria. N�o � a primeira vez que vejo compatriotas nossos, chegarem ao bar ou restaurante dum clube ou associa��o portuguesa e tratarem mal pessoas que l� est�o a trabalhar volunt�riamente e portanto a fazer-lhes um favor.

A MINHA TEORIA

Fiquei contente ao saber que o Sr. Paul Reed, que � um soci�logo e acad�mico, descobriu que afinal, aquilo que se passa na comunidade em geral, � semelhante ao que acontece entre os luso-canadianos - sempre ajuda sabermos que n�o somos os �nicos a sofrer dum problema.

� por�m minha opini�o, que a crise do voluntarismo � tamb�m causada pelo "consumismo", que existe na nossa sociedade. Bombardeados a toda a hora na televis�o, r�dio, jornais, panfletos, cartazes, e at� com telefonemas feitos para a nossa casa, com a promo��o dos mais variados produtos que precisamos de comprar a fim de sermos felizes, mais novos, bonitos, saud�veis, felizes, poderosos, e melhores do que o vizinho do lado, n�o temos tempo para nos dedicarmos ao trabalho volunt�rio.

Afim de ter dinheiro para comprar tudo aquilo a que a "lavagem ao c�rebro" que nos fazem nesta sociedade, diz que � necess�rio, as pessoas trabalham longas horas e t�m dois ou at� tr�s empregos. Alguns, poder�o necessitar desses trabalhos para sobreviver, mas estudos e o bom senso mostram que uma grande parte da popula��o vive acima das suas possibilidades e gasta excessivamente. Ningu�m necessita de usar um par de sapatos de lona, os famosos running shoes, que custam 100 ou 200 d�lares... Ainda h� pouco tempo, uma pessoa dizia-me que tinha oferecido a um filho dinheiro para o down payment (pagamento inicial), dum desses monstros chamados SUV's. Segundo o pai, o jovem estava muito desgostoso, porque n�o podia comprar este tipo de autom�vel, que al�m de perigoso, produz polui��o e destr�i o ambiente, custando a m�dica quantia de 27.000 d�lares. O pobre pai, que juntou ao longo dos anos algum dinheiro com o esfor�o do seu trabalho, julgava que a forma de mostrar amor ao filho era ajud�-lo a comprar semelhante monstruosidade. Como me dizia o nosso compatriota o seu filho at� tinha l�grimas nos olhos por n�o poder comprar semelhante carro! Carros caros (�s vezes um para cada membro da fam�lia), casas enormes, roupas de marcas, casamentos sumptuosos, aparelhagens el�ctricas de pre�os elevados e tantos excessos promovidos pela sociedade do consumismo, levam muita gente a trabalhar de maneira excessiva, n�o lhe tendo tempo para a fam�lia, ou para envolver-se em actividades volunt�rias, desportivas, culturais ou pura e simplesmente n�o fazer nada.

N�o � de admirar, que numa popula��o cada vez mais obcecada com o consumismo e o gastar em coisas in�teis, n�o sobeje tempo para o trabalho volunt�rio.

Sejam qual f�r as causas, para a descida no n�mero de pessoas que se dedicam ao trabalho volunt�rio, n�o h� d�vida, que isto n�o � um problema limitado � comunidade luso-canadiana, mas que atinge toda a popula��o do Canad�.

Sabermos que afinal estamos todos a sofrer da mesma crise, dar-nos-� uma ajuda a perceber o que se est� a passar e talvez, a encontrar uma solu��o para este problema, que poder� vir eventualmente a impedir a preserva��o da cultura portuguesa no Canad�.



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Toronto,
19/Abril/2004
Edi��o 826
ANO XXV

 

   
     Escreveu
    Dr. M. Tom�s Ferreira

   

   


 

 

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